Kanye vs. O Mundo: Ye ataca editora da Vogue após críticas e famosos saem em defesa da profissional, entenda

Na última segunda-feira, dia 3, Kanye West organizou um desfile para a sua grife, Yeezy, onde apareceu com uma camiseta com os dizeres ‘White Lives Matter’ (‘Vidas Brancas Importam’)

Claro, diferente de muito do que West já fez, a camiseta usada em contraposição ao ‘Black Lives Matter’ pegou mal e não foi encarada como forma de arte pela maioria de seus pares. 

Não é sequer a primeira vez que Kanye, muito influente no mundo da moda e ditador de tendências, escolhe se utilizar da polêmica para promover sua marca, uma vez que já utilizou a bandeira dos estados confederados do sul dos Estados Unidos, que representam o conglomerado que lutou no país para manter a escravidão e, atualmente, é um símbolo infame do racismo da região, em ação de marketing da era ‘Yeezus’, quando o álbum de mesmo nome foi lançado.

Na época, em 2013, Ye comentou: “A bandeira confederada representa a escravidão, de certa forma. Essa é minha interpretação abstrata do que eu sei sobre, certo? Então, fiz a música ‘New Slaves…’ e fiz dela minha bandeira. É minha bandeira agora, o que você vai fazer a respeito?”

Tempos depois, Kanye foi notícia novamente por seu apoio ao candidato, e posteriormente, presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que validou movimentos supremacistas brancos, além de criticar o ‘Black Lives Matter’, chegando a utilizar o famoso boné com a frase ‘Make America Great Again’ (‘Faça a América Grande Denovo’). 

Ou seja, a camiseta ‘White Lives Matter’, colocada em modelos de sua passarela, além de ter sido utilizada pelo próprio rapper, não foi nem uma surpresa, mas a reação à ela foi diferente – especialmente depois de a editora de moda da Vogue estadunidense, Gabriella Karefa-Johnson, extremamente respeitada na indústria da moda e uma das poucas pessoas convidadas para o desfile da Yeezy, foi ao Instagram criticá-lo. 

Postando um vídeo de uma modelo negra usando a famigerada peça, ela escreveu: “Aqui começa a besteira… Estou fumegando, organizando meus pensamentos… Me mande uma DM para a tese em que estou trabalhando. Comportamento indefensável.” Karefa seguiu um tempo depois, elaborando um pouco mais sua mensagem: 

“Está se tornando claro que alguns seguidores acharam que meu post anterior com meus pensamentos ainda em construção foi alguma justificativa distorcida para o incrivelmente irresponsável e perigoso ato de colocar camisetas ‘White Lives Matter’ em uma passarela. 

Por favor, compreenda: Não foi. As camisetas que este homem concebeu, produziu e compartilhou com o mundo são pura violência. 

Não há desculpa, não há arte aqui. Sinto muito que falhei em deixar isso claro, eu pensei que tinha. Penso que, se você perguntar a Kanye, ele irá dizer que há arte e revolução e todas as outras coisas naquela camiseta. 

Não há. 

Enquanto todos nós trabalhamos no trauma deste momento, especialmente aqueles que sofreram naquela sala, nos deixe ter alguma graça uns pelos outros.” 

A editora de moda e também stylist compartilhou uma série de mensagens que havia enviado a um amigo, que explicavam seu ponto e porque discorda profundamente do ponto de vista de Kanye

Afirmando que compreende sua intenção com tudo isso, Karefa explica que é perigoso incutir na mente das pessoas a ideia de que a supremacia branca está em extinção porque negros estão tomando seus símbolos para si, pois, ao mesmo tempo, é o medo de estar perdendo espaço na sociedade, que justifica o encarceramento e o assassinato em massa de pessoas negras. 

“Quando usado por Trump é racista, quando usado por Kanye é sobre liberação [o famoso boné ‘MAGA’]. [Quando faz isso] Ele negligencia a percepção da importância do objeto quando tenta estender esse tipo de subversão ao slogan do ‘Black Lives Matter’. Uma coisa é o objeto, outra coisa é o ethos [a ideia social que rodeia o objeto]”. 

Ela também afirmou que é “altamente irresponsável e perigoso” fornecer esse tipo de narrativa ficcional a extremistas, no sentido de que a ideia seria totalmente deturpada e prejudicial à comunidade negra como um todo. 

Kanye, contudo, não gostou nada do teor da crítica de Gabriella. Em post que já foi removido do Instagram, o artista escreveu em tom de ataque abaixo de uma foto da editora da Vogue: “Essa não é uma pessoa da moda”, questionando até mesmo o look que a profissional estava usando durante o desfile da Yeezy

Ainda, em outro post, ele postou uma imagem que dizia: “Quando eu digo ‘guerra’, quero dizer ‘guerra’” e, em determinado momento, chamou o movimento ‘Black Lives Matter’ de “farsa“.

Famosos e personalidades do mundo da moda, porém, não compraram seu manifesto e comentaram em reação, defendendo a editora de moda da Vogue. A stylist Zerina Akers comentou que Kanye convidou apenas cerca de 50 pessoas para o desfile e Gabriella era uma delas, de forma que ele estava apenas tentando diminuí-la após a crítica. 

A modelo Gigi Hadid foi bem mais dura em seu comentário: “Você gostaria de ter um por cento do intelecto dela [Gabriella]. Você não tem ideia… Se existe algum objetivo em toda a sua merda, ela provavelmente seria a única pessoa que poderia te salvar. E sobre a “honra” de ter sido convidada para seu desfile e não dar sua opinião? Por favor… Você faz bullying e é uma piada”.

Addy Campbell, por sua vez, disse que Kanye estava fazendo bullying com uma mulher negra da moda, onde negros já tem pouco espaço. Elaine Welteroth, ex-diretora da Vogue Teen, disse que Gabriella é uma das pessoas mais respeitadas do meio: “Uau, agora você está atrás da mulher negra mais respeitada da moda? Você continua a expor sua ignorância. Gabriella é uma FORÇA altamente respeitada na indústria. Uma das poucas mulheres negras na equipe da Vogue. Você veio atrás da pessoa errada. Nós vamos protegê-la a qualquer custo.”.

O fotógrafo Quil Lemons: “Nós (como pessoas negras na moda) nos desdobramos para tentar apoiar você porque você era ótimo e esse é o jeito que você nos retribui… Como se eu quisesse uma desculpa formal… Além de ofendido”. 

A modelo Hailey Bieber também comentou o caso no próprio Instagram, demonstrando apoio à Karefa: “GFJ o dia todo, todos os dias. Meu respeito por você é profundo, minha amiga. Conhecer você é adorar você e trabalhar com você é uma honra. A mais gentil. A mais talentosa. A mais divertida. A mais chique”. 

Capa da Vogue França idealizada por GKJ

Mais tarde, Kanye mudou de ideia e foi ao Instagram para dizer que Gabrielle Karefa é sua “irmã” e que eles se encontraram por duas horas para conversar, depois saíram para jantar em um restaurante. Ele contou que eles registraram o momento, mas foi “instruído” a não postá-las: “Pareceu que ela estava sendo usada, como Trevor Noah e outras pessoas negras, para falar sobre a minha expressão [de arte]. Ela expressou que sua companhia não a instruiu a falar sobre a minha camiseta.”

O artista complementou que eles se desculparam um com o outro e discutiram sobre “experienciar a luta por aceitação em um mundo ao qual não pertencem”. Kanye ainda disse que eles continuaram a discordar, mas “ao menos, os dois amam Ferdie e moda”, se referindo ao restaurante onde teriam ido para conversar. 

Recentemente, Gabriella Karefa-Johnson entrou para a lista da Business of Fashion, que listou as 500 pessoas mais influentes da indústria da moda.

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