Em entrevista, Chitãozinho & Xororó toca na ferida do sertanejo: os cachês milionários dos artistas do gênero

Em entrevista à Folha de São Paulo, na última semana, a dupla Chitãozinho & Xororó, que está passando pelas comemorações de 50 anos de carreira, comentou os recentes acontecimentos, que colocaram o milionário mercado sertanejo sob uma lupa pública. 

Tudo começou em Maio deste ano, quando o cantor Zé Neto, da dupla com Cristiano, criticou a Lei Rouanet, que elenca requisitos para captação de recursos privados para financiamento público de projetos artísticos, a partir de uma contrapartida do governo federal, além de ironizar a cantora Anitta, por motivo não esclarecido. 

No evento, Zé Neto comentou: “Nós somos artistas e não dependemos da Lei Rouanet, nosso cachê quem paga é o povo. A gente não precisa fazer tatuagem no “toba” pra mostrar se a gente está bem ou não. A gente simplesmente vem aqui e  canta e o Brasil inteiro canta com a gente […]”.

Durante aquelas semanas, a situação de tensão foi se escalando na Internet até que, no fim daquele mês, o jornalista Demétrio Vecchioli foi ao Twitter fazer um “exposed” dos valores recebidos pela dupla, como forma de cachê, pagos por prefeituras. Ou seja, com dinheiro público. 

Utilizando como base os Diários Oficiais dessas prefeituras, foi revelado que o show em Sorriso (MT) custou à prefeitura R$ 400 mil. Além disso, Vecchioli apontou um show na cidade de Extrema (MG) por R$ 550 mil e em Sebastianópolis do Sul (SP) por R$ 403 mil. 

Porém, não parou por aí, pois o que começou com uma aparente picuinha entre artistas, se afunilou numa crise na direção de Gusttavo Lima. Um dos mais rentáveis do sertanejo atualmente, se sobressaindo em números e público, o cantor também foi alvo do início das investigações, que apontaram um show contratado pela prefeitura de Conceição de Dentro (MG) por 1.2 milhão de reais; e outro pela prefeitura de São Luiz (RO) por R$ 800.000.  

Ambos foram cancelados, mas o estrago já estava feito e outros shows de outros cantores e duplas foram suspensos em razão de contratações, no mínimo, descuidadas e nebulosas. Isso porque foi apontada a incoerência entre os altos valores em comparação ao tamanho das cidades que receberiam esses artistas, geralmente do interior e com poucos milhares habitantes; além de contratações sem licitação, o que ocorreu, em algumas ocasiões, com dinheiro previamente destinado no Orçamento Público a outras áreas das prefeituras contratantes, como saúde e educação.

Os Ministérios Públicos de diversas localidades intervieram nas contratações com valores exorbitantes e, até Junho deste ano, mais de 35 cidades tiveram shows cancelados, envolvendo nomes como Wesley Safadão, Bruno e Marrone e Simone e Simaria

Agora, depois de alguns meses, a dupla Chitãozinho & Xororó comentou o caso, que, certamente, causou um rebuliço e marcou o ano do gênero. Nomes estáveis no gênero, comemorando cinco décadas de carreira em 2022, eles não viram problemas em criticar tais acontecimentos à Folha:

“Não tem lógica um negócio desse. Não tem cabimento nem o prefeito fazer isso nem o artista receber, mas cada um é cada um. A gente se preocupa muito com isso e acho que tem que se preocupar. Estamos aqui há mais de 50 anos, não é à toa.”

A primeira voz, Xororó, ainda vai mais à fundo: “Acho que as coisas têm que ser às claras. É ridículo um artistas cobrar um cachê milionário numa cidade pequenininha de tantos mil habitantes e aquele dinheiro ser tirado do próprio povo.”

Chitãozinho & Xororó à Folha de São Paulo

Eles também assinalaram que, mesmo no auge, seus cachês sempre tiveram valores razoáveis, nunca chegando ao equivalente cobrado pelos colegas. 

Até o momento, não houve nenhum outro desdobramento sobre a popularmente chamada ‘CPI do Sertanejo’.

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