Em 2017, as jornalistas investigativas Megan Twohey e Jodi Kantor expuseram os numerosos escândalos sexuais em torno dos abusos cometidos pelo poderoso de Hollywood, Harvey Weinstein, e a forma como o sistema patriarcal o protegeu por muito tempo.
Cinco anos depois, a história por trás da influente reportagem do The New York Times está sendo contada nos cinemas. Durante a première mundial de ‘She Said’ no Festival de Cinema de Nova York, na última terça-feira, dia 14, a diretora Maria Schrader comentou porque essa história merece ser contada:
“Hollywood tem o dever de contar as histórias mais essenciais de nosso tempo. Não é apenas sobre os erros de uma pessoa, mas sobre todo o sistema que o protege. E isso é algo que se pode encontrar em qualquer tipo de indústria, mesmo em negócios pequenos”
Na produção, a dupla Twohey e Kantor é interpretada por Carey Mulligan e Zoe Kazan, respectivamente. Porém, ambas também compareceram à estreia da adaptação de sua história. À Variety, Kantor comentou: : “Existem alguns filmes e outros ‘não sei o quê’ em que os jornalistas são retratados como oportunistas. O mais importante pra mim [sobre o filme] é que eu queria a sinceridade, tanto das jornalistas quanto das fontes para ser interpretada”.
Twohey foi mais longe e chegou a comparar a história com dois famosos e bem sucedidos filmes sobre jornalismo-investigativo, o clássico ‘Todos Os Homens do Presidente’ (1976) e ‘Spotlight: Segredos Revelados’ (2015): “Acredito que esse filme é uma carta de amor ao jornalismo. Te leva para as verdadeiras salas do New York Times e mostra todo o trabalho extremamente duro necessário para conseguir uma história como essa – todos os desafios que você enfrenta, mas também quão incrivelmente recompensador pode ser”.
Durante o painel de discussões, após a primeira exibição do painel, a indicada ao Oscar, Carey Mulligan, refletiu sobre os desafios de interpretar alguém real: “E então interpretar heróis reais da nossa sociedade… Eu estava aterrorizada o tempo todo – e ainda estou!”.
De outro lado, Kazan comentou que o filme ilustra bem como “um indivíduo pode fazer mudanças quando apoiado pelas instituições corretas”, mas apontou que o movimento #MeToo, resultado de todas as denúncias sobre os comportamentos criminosos de Weinstein e outros poderosos de Hollywood, está longe de acabar.
O filme ‘She Said’ é lançado em meio a quatro grandes julgamentos do #MeToo, que envolvem Harvey Weinstein, os atores Kevin Spacey e Danny Masterson e o diretor Paul Haggis, que estão acontecendo durante o mês de Outubro em Los Angeles e Nova York.
“Qualquer um que esteja lendo os jornais, vamos dizer, desde Maio, saberia que ainda estamos vivendo em patriarcado opressivo. Isso não é exclusivo da nossa indústria, [ainda] há muitas mudanças a serem feitas”.
O filme conta com as participações de diversas mulheres que foram sexualmente abusadas por Weinstein na vida real, como Ashley Judd e Sarah Ann Masse, que atualmente administra a Hire Survivors Hollywood, e aponta: “Nem todos são, necessariamente, um abusador em série como Harvey era. Eu acho que há pessoas que podem aprender e parar de fazer mal aos outros. [Mas] Nós temos que colocar um ponto final na falta de segurança e respeito [no ambiente hollywoodiano]”.
‘She Said’, baseado no livro de mesmo nome lançado pelas repórteres do New York Times, está previsto para estrear nos cinemas americanos em 18 de Novembro. Confira o trailer: