#PFBReview – Rihanna quer ser "do contra", mas está pagando um preço alto por isso em "ANTi"

Expectativas altas demais contribuem sempre para grandes decepções

Graças a um vazamento “inesperado”, que já deu o que falar na madrugada de hoje, ANTi, a lenda urbana que acabou virando o oitavo álbum de estúdio de Rihanna, enfim está entre nós.

É surreal pensar que, após três anos de espera e enigmas sem resposta, finalmente temos o material finalizado em mãos, e agora que o protelado disco chegou, ainda não sabemos o que fazer com ele, tanto é que estamos travando um dilema mortal internamente: Rihanna acabou de provar que é uma verdadeira artista apertando o botão do “foda-se” ou simplesmente nos presenteou com a coleção de músicas mais decepcionante de sua carreira até agora?

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O ANTiDiary não nos deixa mentir: a espera é a grande culpada.

No longo trajeto que trilhamos até chegar aqui, fomos interditados no caminho por uma saga de prévias conceituais em parceria com a Samsung que, ao invés de nos manter ávidos por eventuais novidades, só nutriu impaciência, e não no bom sentido; três singles “o.k.” que, no fim das contas, de nada valeram e nem no álbum se encontram mais e, para coroar, o silêncio inacessível de Rihanna e sua insistência com metáforas que nem a própria compreendente inteiramente e um fascínio injustificável com o braille.

Se o propósito inicialmente era alcançar o maior número de ouvintes possível, todos os pit-stops que nos levaram até ANTi mais entediaram que propriamente entretiveram.

E não é nem FourFiveSeconds, a estelar parceria entre a caribenha, Sir Paul McCartney e Kanye West, a agressiva Bitch Better Have My Money ou a imponente American Oxygen que abrem o CD. Elas estão fora.

O almejado cargo é, na verdade, ocupado pela inédita Consideration, que traz a participação emblemática de SZA, uma cantora de R&B subestimada que recentemente descolou um contrato na Top Dwag Entertainment (mesma agência de Kendrick Lamar e ScHoolboy Q).

“Eu preciso fazer as coisas do meu jeito, querido”, ela já solta de cara.

Com tais referências, já dá para se ter uma ideia da sonoridade, que nos primeiros segundos mostra que Rihanna está largando de vez os hits do passado e é curta demais para ser uma música pop interessante e longa demais para se tratar de uma mera introdução. É, em suma, um grito de independência, mas ainda não sabemos ao certo onde iremos parar.

E isso é um bom ou mal sinal?

 

“Preferia estar fumando maconha” é a primeira coisa que ouvimos da boca da hitmaker em James Joint, um sugestivo interlúdio que, estranhamente, atua como segunda faixa no disco e é a Birthday Cake da vez, mesmo sem as batidas energéticas e com camadas e camadas de sintetizadores. Só nós estamos sonhando com uma versão completa desta?

Kiss It Better é a primeira surpresa realmente agradável que temos no ANTi: produção do Glass John que mescla o R&B caprichoso dos anos 90 com algumas guitarras elétricas, que guiam os vocais de Rihanna ao longo de todo o percurso e fazem tudo soar como a versão definitiva das baladas de rock futuristas, a faixa é um dos poucos atrativos comerciais do disco e seu grande destaque.

É também, provavelmente, uma das poucas que você terá vontade de ouvir novamente.

“What are you willing to do?”

Work é o “primeiro” single do CD e sua canção mais absurdamente destoante. É quase como se a Roc Nation tivesse permitido que a caribenha lançasse o álbum que quisesse, por mais bizarro que fosse, desde que incluísse pelo menos um hit óbvio dentre todo o experimentalismo, e este é o único papel que a insossa parceria com Drake – a terceira da dupla – desempenha.

Azealia Banks não está no álbum, mas a xará de sua Desperado sim. A quinta música da tracklist, que até então é escassa de boas surpresas, encontra Rihanna debatendo entre uma desconfortante estabilidade e a excitação que novas experiências poderiam proporcionar. Não é nenhuma must-have em qualquer playlist, mas está longe de ser uma decepção.

Woo é a aposta para as pistas de dança da vez, mas não vá assim com tanta sede ao pote: sem qualquer gancho memorável, a não ser que você conte os incessantes woo, woo que acompanham todo o alarido, a composição de Abel Tesfaye (que atende também pelo famoso nome de palco The Weeknd) é tudo menos o próximo grande hit de Rihanna.

Já Needed Me é a filha bastarda do DJ Mustard (2 On, L.A. Love) que de semelhança com o histórico prévio do produtor só tem o clássico “Mustard on da beat”. Com batidas mais seccionadas e uma atmosfera excessivamente sombria, Rihanna dispensa os cavalos brancos, carruagens e o romance típico e ataca um ex que parece não querer largar do seu pé: “Eles não te disseram que eu sou uma selvagem?”

“You know I’m saucy.”

Timbaland é o responsável por Yeah, I Said It, um jam promissor que de início parece estar sendo cozinhado a fogo baixo, mas se extingue antes de causar qualquer verdadeira explosão. Talvez seja hora de também darmos um trago e ver se esse mundo em tons de cinza, preto e escarlate parece melhor das alturas?

A nona música é uma reinterpretação à altura, mas um tanto quanto sem sentido, da psicodélica New Person, Same Old Mistakes do Tame Impala, e um delirante festival de sintetizadores e ecos assombrados que fará até os leitores barrocos, indie e “diferentões” do Pitchfork sorrirem de orelha a orelha. Nós sabemos, porque nós sorrimos.

 

Dido em sua melhor forma, Never Ending é dessas baladinhas harmônicas que os mais esperançosos acreditariam ser uma sucessora válida de Stay, do último álbum, enquanto Love On The Brain já soa como um clássico doo-wop no primeiro play. Alguém, por favor, avise à Paloma Faith que RiRi pode ter furtado uma de suas demos. E para quem acreditava que Bibi Bourelly (compositora de BBHMM) estava 100% fora do projeto, terá de engolir à força Higher, um curtíssimo momento intimista que mira em Dope da Lady Gaga mas na verdade acerta nisto.

Close to You não é a balada EDM ideal como Lost in Paradise, que fechou (e muito bem fechado, diga-se de passagem) o último disco, mas mesmo com sua produção inacreditavelmente minimalista e as notas nem tão bem elaboradas de piano já ganha por estar alguns tons abaixo de Higher e apostar mais no acústico e na vulnerabilidade prometida que o resto do ANTi todo.

Agora precisamos conversar seriamente a respeito de Goodnight Gotham, que abre a edição deluxe e traz o famoso sample de Only If For A Night, da Florence Welch, que ouvimos através de vazamentos ano passado e até ao vivo no último Rock in Rio e, na verdade, não é nada além disso: 1 minuto e 28 segundos de um trecho remixado de uma ótima canção rock que merecia, no fim das contas, ter sido deixada em paz.

É sério isso, Rihanna?

De cereja no bolo temos ainda Pose, onde o que impera é o auto-tune, as distorções vocais e os carões, e, para melhorar nossos ânimos, que a este ponto já estão lá embaixo, Sex With Me, a última canção do álbum e um morde e assopra disfarçado que não chega a ser um smash, mas é uma das poucas músicas que, ironicamente, soam como algo que Rihanna gravaria.

 

Alguns demônios foram, sem sombra de dúvidas, exorcizados aqui.

Rihanna precisava de algum tipo de válvula de escape após uma década de altos e baixos sendo a queridinha nas rádios e uma das maiores celebridades do planeta, mas o problema com o falso motim que se tornou o conturbado ANTi, que não é realmente a obra-prima que esperávamos, e sim aquela tragédia romântica e agridoce da qual não esqueceremos tão cedo, é que ele tem se estendido por mais tempo que deveria. A impressão que fica é que um quebra-cabeça difícil demais de ser montado foi criado para os fãs, mas ele sequer veio, para começar, todas as peças, e reinvenções bem-sucedidas não se fazem com pouco esforço.

E que a caribenha ama umas férias em seu país natal, Barbados, e deixar singles esfriarem nas paradas por meses a fio sem uma divulgação intensiva, nós sabemos. ANTi é mesmo “do contra”: contra o tipo de música que ela costumava produzir no passado, contra seus incontáveis hits de tabela na Billboard, contra ela própria. E, numa análise mais fria, talvez não tenha sido a melhor decisão de sua carreira até então.

ANTi – The Movie por pfbrvideos

Cedo ou tarde, qualquer artista pop pré-fabricado se vira contra os próprios criadores, desde Madonna nos anos 80 até Miley Cyrus recentemente, que de súbito virou a Rainha do Twerk e inclusive lançou um álbum de graça, aos moldes de ANTi, em julho passado, e esta foi a chance de Rihanna provar sua independência e valor artístico sem todo o adorno comercial de sempre camuflando suas reais intenções.

Expectativas altas demais, é claro, contribuem sempre para grandes decepções, e ANTi não seria um álbum ruim caso sua protagonista mostrasse que realmente sabe o que está fazendo. O que, já entendemos, não é bem o caso.

Ame-o ou odeie-o. Não há meio-termo.

E, no que diz respeito a nós, preferimos esperar pelo #R9 a cruzar esta fronteira novamente.

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