O primeiro longa-metragem religioso da Netflix, ‘Virgem Maria‘, estreou na primeira semana de dezembro e, entre críticas e polêmicas, já figura entre os títulos mais assistidos da plataforma. Mas será que o filme entrega profundidade à história de uma das figuras mais importantes do cristianismo?
O PFBR conferiu a obra e já tem sua crítica para compartilhar.
A Virgem Maria da Netflix
Protagonizado pela estreante Noa Cohen como Maria e pelo vencedor de dois Oscars Anthony Hopkins no papel de Rei Herodes, ‘Virgem Maria’ (Mary) combina elementos bíblicos e apócrifos para retratar a vida da jovem que se tornaria a mãe de Jesus, desde sua infância até a adolescência.
Sob a direção de DJ Caruso, o filme apresenta um enredo épico centrado na promessa feita por seus pais, São Joaquim e Santa Ana, abordando sua formação espiritual como serva de Deus e os primeiros passos de sua relação com José, vivido por Ido Tako.
A Polêmica escolha de elenco
Após sua estreia, grande parte das críticas girou em torno da escolha do elenco. Segundo o IMDB, alguns dos atores, incluindo a protagonista Noa Cohen, são de origem israelense. Esse fato gerou polêmica nas redes sociais, especialmente devido ao contexto do conflito militar entre Israel e Palestina.
Um exemplo de crítica veio de um usuário citado pelo jornal Middle East Eye:
“A Netflix achou que seria uma boa ideia escalar uma israelense para representar a mãe Maria, como se os israelenses não estivessem bombardeando a terra natal do próprio Jesus e também todas as igrejas.”
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Nosso review de ‘Virgem Maria’
Antes de tudo, é importante destacar que o filme se apoia não apenas em passagens teológicas, mas também em textos apócrifos — ou seja, não reconhecidos como canônicos pela Igreja Católica — para recriar e dramatizar os primeiros anos da vida de Maria.
O grande objetivo do diretor é claro: devolver a humanidade àquela que é vista como bendita entre todas as mulheres. Ele propõe um olhar mais íntimo sobre o amadurecimento de Maria, que também foi uma criança e adolescente antes de se tornar a figura santa que conhecemos.
E aqui, o filme entrega. Os momentos que destacam a Maria humana — com medos, dúvidas e desejos — são genuínos e cumprem o papel de aproximar o espectador de sua trajetória pessoal. Porém, quando surge a oportunidade de aprofundar essa abordagem e explorar conflitos mais desafiadores, o roteiro recua.
O filme também tropeça em transições cronológicas abruptas e na entrega de um José que soa quase infantilizado. Por outro lado, há acertos importantes. A introdução das dores do parto, por exemplo, reforça a humanidade de Maria e contrasta com a crença de que, devido à sua Imaculada Conceição, teria sido poupada desse sofrimento.
Além disso, a atuação de Anthony Hopkins como Rei Herodes é um dos pontos altos. Sua presença em cena mantém a tensão necessária para que o filme não caia em lentidão, prendendo o público aos desdobramentos da narrativa.
Porém, os dilemas apresentados permanecem na superfície, com resoluções previsíveis e simplórias. A narrativa parece hesitar em ir além, talvez por receio de romper com a percepção tradicional da Mãe de Jesus Cristo. É compreensível que, ao tratar de uma figura religiosa tão importante, o filme opte por preservar uma linha de fé e resiliência. Ainda assim, essa escolha limita a exploração de Maria como personagem.
No fim, essa busca por equilíbrio entre a liberdade criativa e o respeito à base religiosa compromete o que poderia ter sido o maior trunfo da obra: a oportunidade de contar com profundidade uma história de Maria que nunca foi explorada.
PFBR Avalia: 7/10