Psicólogos analisam letras de Selena Gomez, Ariana Grande, Camila Cabello, Shawn Mendes e Alessia Cara em relação à saúde mental

Ansiedade, depressão e outros problemas são temas recorrentes de várias canções atualmente e artistas adorados pelos adolescentes não escapam deste assunto.

Pensando nisso, o G1 ouviu psicólogos que analisaram se letras de artistas como Selena Gomez, Ariana Grande, Camila Cabello e Shawn Mendes mais ajudam ou atrapalham na saúde mental de ouvintes que podem desencadear problemas parecidos. Eles chamaram o subgênero de “pop ansioso”.

  • “Anxiety”, de Julia Michaels e Selena Gomez, é sobre não conseguir escapar de um fluxo de pensamentos ruins;
  • Em “Get Well Soon”, Ariana Grande fala sobre estar sobrecarregada, desconectada, solitária, congelada e indecisa;
  • “Growing pains”, de Alessia Cara, versa com naturalidade sobre as angústias do envelhecimento;
  • “In My Blood” tem um Shawn Mendes ansioso, inseguro, bebendo após conselho de amigos e com dificuldades de respirar e se medicar corretamente;
  • Em “Real Friends”, Camila Cabello confessa ter baixa auto-estima, estar solitária e com dificuldade de confiar nos outros.

Lina Rosa, professora da UFRJ e psiquiatra do Hospital Universitário, destaca que a discrepância entre a melodia leve e a letra pesada pode provocar uma confusão.

“Se uma melodia que te reporta a uma sensação de relaxamento tem contraponto a uma letra que te leva para uma sensação oposta… Pode ser mais angustiante”.

Entretanto, Lina expõe que falar abertamente sobre o assunto no meio mainstream pode ser ótimo.

“Desromantiza o dia a dia. Você pode desmistificar coisas e aproximar o paciente do médico. É mais interessante do que manter um mistério. Isso torna o sofrimento psíquico de cada um permitido”.

Paola Almeida, coordenadora do laboratório de Psicologia Experimental da PUC-SP, explica que as canções citadas acima ilustra bem o pensamento dos jovens.

“Algumas letras falam de motivos, de medo da solidão, das dores. Acho importante dizer o que as pessoas sentem”.

Paola elege “Growing Pains” de Alessia Cara sua preferida entre as cinco.

“Ela fala um pouco que isso é natural, ter um momento de tristeza, angústia. Faz parte da nossa vida”, explica Paola. “É sempre positivo e também ajuda a tirar um pouco preconceito com as dificuldades e sofrimento psicológico”.

A psicóloga ressalta que o saldo é positivo e que as letras não provocam recaídas em quem ouve, muito pelo contrário.

“Mas essas músicas não incentivam a ter dor, os popstars só estão contando. A música só pega de um jeito negativo se alguém já está mal. É importante que tenha uma forma sadia de olhar para essas histórias.

Adriano Segal, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), continua a linha de raciocínio.

“Se uma música desmistifica um quadro psiquiátrico, só vejo com bons olhos. Isso traz um estímulo positivo, uma sensação de que você não está sozinho, não precisa ter medo”.

Para Adriano, as letras podem aumentar a procura desnecessária por ajuda, com mais pessoas pensando ter problemas mentais, mas o impacto é muito pequeno.

“A gente viu muito isso no início da década de 90 quando começaram a ser mais divulgados os transtornos alimentares. O máximo que acontece é pessoas sem problema procurarem médicos”.

O profissional ainda releva que pacientes com fibromialgiase sentiram “acolhidos e maravilhados” quando descobriram que Lady Gaga tinha a síndrome, o que é bem benéfico para essa parcela tão pequena da população.

“Você acha que pertence a um grupo. Quando você tem uma doença rara, desconhecida, você se sente alijada do convívio… Quando tem alguém que é poderoso e fala dela, a pessoa se sente pertencente, se sente ligada a um grupo. Se sente menos isolado”.

Rodrigo Leite, diretor dos ambulatórios do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, a ideia é de que uma massa se envolva em um só ponto, mas continuam sozinhos.

“Hoje o objetivo é o individualismo coletivo. Todos sofrem sozinhos no final das contas”.

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