Os 25 anos de Ludmilla: uma artista consistente que encontrou sua voz

Há 25 anos, em 24 de abril de 1995, nascia em Duque de Caxias, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, a menina Ludmila Oliveira da Silva. Filha de Silvana Sales Oliveira, Ludmilla não teve contato com o pai, que a abandonou quando ela ainda era uma criança. As figuras masculinas em sua vida foram seu padrasto e tio. Inclusive, foi com o grupo de pagode do marido de sua mãe que o talento da menina foi descoberto, aos oito anos.

Ainda adolescente, com pouco mais de dezesseis anos, Ludmilla abriu um canal no YouTube, sob a alcunha de MC Beyoncé, em referência à cantora de quem ela é muito fã, onde já postava suas músicas autorais, mas não obtinha muitas visualizações. Foi em um evento, entretanto, que a primeira oportunidade apareceu. Um beatmaker precisava de uma cantora e ela era a única presente ali que sabia cantar e rimar. A apresentação agradou e os produtores do evento começaram a chamá-la para cantar desde então.

Entretanto, sua carreira só começou de fato depois que seu tio lhe apresentou ao MC e empresário carioca Roba Cena. Com ele, Ludmilla lançou, em maio de 2012, seu primeiro single intitulado “Fala Mal de Mim”. A música conquistou 15 milhões de visualizações no YouTube e seu videoclipe oficial atingiu quatro milhões de visualizações até outubro daquele ano. A partir dali, Ludmilla passou a apresentar-se como MC Beyoncé. Essa trajetória durou até julho de 2013. Durante esse período, devido à exposição, Ludmilla começa a receber com bastante força, diversos ataques racistas nas redes sociais, por conta do seu estilo visual e das músicas que cantava. Por fim, Ludmilla rompeu relações profissionais com Roba Cena, de forma amigável, e, com isso, também abandonou a alcunha de MC Beyoncé, que pertencia a ele.

Ludmilla em show pouco antes de abandonar a alcunha de MC Beyoncé

Assinando agora como Ludmilla, a cantora assinou conquistou um com a Warner Music Brasil. Seu primeiro single com a gravadora, “Sem Querer”, foi lançado em janeiro de 2014. Depois de abandonar o antigo nome artístico e o antigo empresário, a carreira de Ludmilla mudou por completo. Sua equipe agora contava com banda, bailarinos, DJ, técnico de som, personal stylist, assessoria de imprensa e pessoal e um cachê três vezes maior do que recebia anteriormente. Seu primeiro álbum, “Hoje”, foi lançado em agosto de 2014. A era “Hoje” contou com cinco singles, trabalhados entre janeiro de 2014 e dezembro de 2015, além da faixa-título, foram trabalhadas “Te Ensinei Certin”, “Não Quero Mais (feat. Belo)” e “24 Horas por Dia”. Sua música com Belo, inclusive, já era uma pequena mostra do que viria alguns anos após, com seu EP de pagode: Ludmilla já gostava do gênero e era muito fã do cantor. Já nessa época, ela mostrava-se versátil quanto a suas escolhas musicais. Diferente das demais faixas do álbum, que flertam com funk, “Não Quero Mais” seguia uma vibe mais R&B.

A ascensão de Ludmilla durante essa era foi grande. Além de trabalhos musicais, ela fez aparições como ela mesma em diversas novelas e minisséries, como “Babilônia”, “Alto Astral”, “#PartiuShopping” e “I Love Paraisópolis”. Também foi mentora especial no reality show “Lucky Ladies”, interpretou a personagem Toinha, no seriado “Vai que Cola” e foi apresentadora especial da Hora do Faro.

Ludmilla em foto promocional do álbum “A Danada Sou Eu”

Os seis meses seguintes contaram com parcerias de Ludmilla com outros artistas e o lead single de seu segundo álbum de estúdio veio em junho de 2016. “Bom” alcançou o primeiro lugar em várias paradas regionais. O segundo single, “Sou Eu”, veio dois meses depois, em agosto de 2016. Foi ele quem introduziu do que se tratava a nova era de Ludmilla: “A Danada Sou Eu”. O álbum foi lançado em outubro de 2016 e foi trabalhado até o final de 2017 contando com quatro singles, entre eles “Cheguei” e “Tipo Crazy (feat. Jeremih)”. Foi com esse último single, inclusive, que Ludmilla deu seu primeiro aceno para o cenário internacional. Mesmo com tanto sucesso ao seu redor, Ludmilla continua sofrendo ataques racistas cada vez mais fortes nas redes sociais e também na televisão. No carnaval de 2016, por exemplo, a socialite Val Marchoiri desferiu comentários racistas na cobertura do evento dizendo que seu cabelo “parecia um Bombril”. Ludmilla processou a socialite que foi condenada a pagar 10 mil reais para a cantora, mas recorreu da decisão. Poucos meses depois, em maio, Ludmilla vê-se novamente processando outra pessoa por conta do racismo. Um homem estava fazendo comentários criminosos em seu Instagram e ela o denunciou à Delegacia De Repressão Contra Crimes de Informática. Ele, na mesma conta, postou um pedido de desculpas e disse que foi “tudo um mal entendido”.

Em 2018, Ludmilla não lança álbum nenhum. Por outro lado, esse foi um ano essencial para a definição do que seria sua carreira dali pra frente. Em fevereiro desse ano, ela lança o hit single “Solta a Batida”. Entretanto, nesse mesmo período, seus vocais surgem em um funk que diz: “pode me tirar tudo que eu tenho, pode falar tudo que eu faço/mas eu só te faço um pedido, não encosta no meu baseado”. A faixa caiu no gosto popular e, em parceria com Kondzilla, Ludmilla lança uma versão não explícita da música. Entretanto, em seus shows, a versão original é cantada a plenos pulmões. É importante prestar atenção a esse detalhe que foi decisivo em sua carreira: mesmo podada pela gravadora, ela encontrou maneiras de expressar quem era, Pouco depois, surge outro funk muito popular chamado “Din Din Din”. E, fechando o ano de hits solo, Ludmilla também lança o single pop “Jogando Sujo”.

Ludmilla em seu clipe, “Jogando Sujo”

Pouco depois desse último lançamento, Ludmilla anunciou ser bissexual e que estava namorando sua bailarina Brunna Gonçalves. Esse foi outro dos passos importantes na carreira da cantora, agora com 23 anos. Não somente Ludmilla havia encontrado maneiras de fazer seu funk, no mesmo estilo que a introduziu no mercado, caminhar junto com os desejos de sua gravadora como também entendeu que seu sucesso advém da sua autenticidade e que moldar-se ao esperado não traria tão bons resultados quanto ser ela mesma.

Chegamos a 2019 com o lançamento de seu primeiro álbum visual: “Hello Mundo”. Totalmente inspirado nos shows de sua grande musa, Beyoncé, Ludmilla convida vários artistas para participar dessa celebração de sete anos de carreira, entre eles: Jão, Simone e Simaria, Ferrugem, Léo Santana e Anitta. O single “Favela Chegou” foi lançado antecipadamente, a pedido dos fãs, que queriam a música como aposta pro carnaval carioca. Semanas depois, batendo com o lançamento do álbum Kisses, Anitta lança sua parceria com ela e Snopp Dogg, intitulada “Onda Diferente”. Uma música que, posteriormente, estremeceria a relação das duas cantoras e cuja briga virou espetáculo para o público brasileiro.

Ludmilla também foi uma das vencedoras da “Dança dos Famosos”, do Domingão do Faustão, junto com Di Ferrero. Sua participação no programa foi elogiada por toda classe artística e público, onde a cantora pode mostrar todos os seus talentos vocais e de performances. Em agosto, continuando sua empreitada internacional, Ludmilla participou da canção “Malokera”, de MC Lan, que tem como outros parceiros, Skrilexx, Ty Dolla $ign e DJ TroyBoi. A canção foi tocada no desfile da FentyxSavage, de Rihanna, dando grande projeção pra cantora. Após esse evento, Ludmilla assinou com a Roc Nation, que fica agora encarregada do seu gerenciamento internacional. E fecha o ano lançando seu hit single, “Verdinha”, e casando-se com Brunna Gonçalves.

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Ludmilla e sua esposa, Brunna Gonçalves

Fica bem claro que, em menos de dez anos de carreira, Ludmilla alcançou muita coisa. Entre hits de sucesso, uma vida pessoal movimentada (pro bem e pro mal) e o início de uma carreira internacional (que já conta com altas expectativas devido a sua esperada parceria com Cardi B), Ludmilla demonstra ser maior que todas as barreiras e adversidades que lhe são impostas. Vimos o florescer de uma menina cheia de sonhos de ser artista, completamente entregue nas mãos cruéis da internet quando ainda não se discutia racismo com a mesma avidez que atualmente. Assistimos ela aguentar esses ataques de cabeça erguida e respondendo com sua melhor arma: sua música. Sua trajetória é inspiradora para todas as meninas negras que sonham em serem artistas. Mais que isso, é inspiradora para toda comunidade LGBTQ+ que agora também a tem como um parâmetro. Ludmilla cresceu muito como pessoa e como artista e nós tivemos a oportunidade de acompanhar isso tudo de perto. Ela já não está mais disposta a se calar frente as injustiças e nem a ser moldada.

Ludmilla já foi indicada a 54 prêmios e venceu 14 deles, entre eles o Prêmio Multishow de Música Brasileira em 2019, com “Onda Diferente” como Música Chiclete e na categoria Melhor Cantora, o Latin Music Italian Awards em 2017, na categoria Melhor Artista Brasileiro do Ano e o Melhores do Ano em 2015, com “Hoje”, na categoria Música do Ano.

Para comemorar seu aniversário de vinte e cinco anos, Ludmilla lançará um novo trabalho: “Numanice“. Seguindo uma vibe tropical, com tipologia neon, “Numanice” é uma expressão que um amigo seu usava em legendas de fotos, que significa “numa boa”. Ela escolheu esse nome por ser autêntico, forte, diferente, inovador e irreverente.

A divulgação do trabalho e a comemoração do aniversário será hoje (24) mesmo Live da Lud, apresentada pela Renner e patrocinada pela Chilli Beans, Nike e AME, que acontecerá em seu canal do YouTube às 18h.

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