#OldButGold: Clássicos da literatura nacional

Isso aqui está longe de ser uma lista dos melhores clássicos nacionais. São só alguns livros que gostei bastante e que quero recomendar tanto para quem gosta deste tipo de livro quando para os que a acham uma “merda “. Em breve sai a versão com clássicos estrangeiros. Talvez faça um com livros mais novos. Algumas pessoas se julgam superiores por só lerem os clássicos. Mas para mim isso é o mesmo que se gabar por só ouvir Beethoven ou Mozart ou só assistir filmes da época de Cidadão Kane. Ou seja, não faz sentido algum. O que importa é ler bons livros. É muita ingenuidade julgar que nenhum livro atual seja bem escrito ou possa se tornar no futuro um clássico.Muito provavelmente um clássico que você leu e amou ficou de fora. Isso pode ter se dado por vários motivos diferentes. Posso não ter gostado dele, talvez ainda não tenha lido,  talvez esqueci dele ou como a lista é restrita ficou de fora. Se você quiser recomendá-lo o espaço de comentários também tem essa função.

1 – Noite na Taverna –  Álvares de Azevedo

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Numa taverna, homens excitados pelo álcool contam casos de suas vidas, sendo cada capítulo um caso, que ganha o nome do narrador-personagem. Assassinatos, incestos, necrofilia, são algum dos temas presentes na obra, marcada por uma profunda visão pessimista e trágica do mundo, típica do Ultra-Romantismo.

Por que ler ? O tom macabro e sombrio de Álvares de Azevedo instiga, choca e marca. Suas personagens femininas são quase sempre mulheres condenadas e seus personagens masculinos estão mais para anti-heróis. Particularmente, a morbidez presente em cada página deste livro me fascina – já li três vezes – mas não recomendo sem reservas.

 

 

2 -Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida

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Não gosto do Romantismo e meu livro favorito desse escola só podia ser o que foge da maioria dos padrões da época. Aqui não há mocinho, nem vilão, e o protagonista Leonardo é um malandro que vivia na vadiagem, aprontando todas até ser escolhido pelo chefe da polícia para ser sargento. A mulher, diferente do convencional, é feia e o texto tinha pequenos toques de humor.  Lembro que a época que eu li o livro, gostei tanto que fiquei triste de saber que foi o único livro que o autor Manuel Antônio de Almeida havia escrito.

Por que ler ? Memórias de um Sargento de Milícias nos remete a imaginar como se vivia no Brasil na época em que a corte portuguesa aqui esteve, a forma em que a “lei” era tratada, a religiosidade fervorosa do povo, a cultura trazida pelos portugueses e o rápido desenvolvimento que isso trouxe para a cidade do Rio de Janeiro.
Um romantismo diferente, que foge ao padrão sentimentalista e que nos faz querer continuar a leitura a cada capítulo findado.

3- Iracema – José de Alencar

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A virgem tabajara Iracema apaixonou-se por Martim, um colonizador português. Entre guerras e conflitos, ciúmes e disputa de poder, a história desse amor proibido tem como pano de fundo a cultura indígena, com seus deuses e mitos, a miscigenação do branco com o índio e o surgimento de um novo país numa terra fértil.

Por que ler ?Em Iracema, Alencar criou uma explicação poética para as origens de sua terra natal, daí o subtítulo da obra – “Lenda do Ceará”. A “virgem dos lábios de mel” tornou-se símbolo do Ceará, e seu filho, Moacir, nascido de seus amores com o colonizador português Martim, representa o primeiro cearense, fruto da união das duas raças.Sinceramente, quando peguei esse livro achei que ele seria terrível literatura brasileira + história romântica + leitura difícil = fiasco. Mas acabou sendo um tanto que cativante, bem escrito – poderia até ser uma poesia, as palavras usadas são extremamente bonitas . Não entendi por que as pessoas odeiam tanto ele, sendo uma leitura tão rápida e agradável. Para quem já leu e não gostou, recomendou uma releitura, e para quem não leu, recomendo a ler – mas leia com calma e não desanime, pois a leitura é difícil. Agora me deu vontade até de ler as outras obras do José de Alencar, espero que sejam tão boas como Iracema.

 4 – Dom Casmurro – Machado de Assis

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Este é, com certeza, o mais importante romance de Machado de Assis e uma das mais belas histórias de amor da literatura brasileira. Nele o escritor reúne, no dizer de Renard Perez, todas as surpreendentes aquisições de sua última fase  o seu triste e velado humorismo, os seus finos dons de observador e de analista, as suas delicadas sondagens psicológicas, o requinte da expressão… É seu romance mais sofrido, mais humano. O tema  uma preocupação que transparece em toda a obra machadiana  é o adultério, e a persistente dúvida sobre a confiança traída ao longo de uma vida é a vertente de dor e de sofrimento que ele apresenta.
Por trás da história arrebatadora de Capitu, a dos “olhos de ressaca”, estão os costumes do Segundo Império, a vida da pequena burguesia do Rio de Janeiro da época, que surgem para o leitor através da observação penetrante e do humor fino de Machado de Assis.

Por que ler ? A pergunta clássica me veio a mente, “Capitu traiu ou não traiu Bentinho?” e após algum tempo, vi que isso não aconteceu. Capitu não traiu Bentinho.
Bentinho idealizou Capitu como aquela que podia ter lhe traído. Talvez por desconfiança mesmo, ou por uma culpa, consciente ou inconsciente, de momentos como “Não havia jeito de esquecer a mãe de Sancha, nem os olhares que trocamos.” e então ele joga essa culpa em Capitu. Porque aliás, se ele foi capaz de cometer essa ‘traição psicológica’, nada a impede de fazer o mesmo. Nisso, ele a idealiza.
Também me veio a cabeça que o próprio Bento poderia ter matado Escobar. Ou não, pois Bento era uma pessoa boa (apesar de ter o impulso de -quase- matar Ezequiel).
Mas, Machado deixa claro no livro que Bento matou, dentro de si, todos aqueles presente naquele meio. Tanto que nem se sentiu mal ao receber a notícia da morte do filho. Meu amigo disse que “A maior loucura de Bento era o pessimismo. Ele matou por puro pessimismo, e falta de crença no amor, essas pessoas.”
Para mim, a mensagem contida no livro é a de quanto mais medo de tiveres de ficar sozinho, mais rápido ficaras. Bento tinha medo da traição de Capitu e Escobar, e o medo lhe tirou Capitu. Bento tinha medo de Ezequiel não ser fruto de seu casamento com Capitu, e o medo lhe tirou Ezequiel.
A desconfiança nos coloca em um lugar com todos aqueles que consideramos especiais, e os tira aos poucos dessa sala, nos deixando sozinho.
O amor que Bento sentia foi transformado em desconfiança e, aos poucos, essa desconfiança foi transformada em melancolia e solidão.

 5 – Macunaima – Mario de Andrademacunaima
“Macunaíma, o herói sem nenhum caráter” é uma das maiores obras do Modernismo brasileiro, escrito numa linguagem popular e oral, tida por seu autor como a verdadeira língua do país. Macunaíma é o símbolo de um povo que não descobriu sua identidade. Ao longo de suas aventuras fantásticas, Macunaíma e seus dois irmãos apresentam uma vasta antologia do folclore brasileiro, misturando mitos antigos e situações que mostram o homem em meio ao fascínio da tecnologia.
Por que ler  ? Um dos problemas de Macunaíma, e também sua maior dificuldade, é que o autor precisa fazer um pacto pré-leitura: não a levar a sério nada do que vai ler, não esperar lógica ou sequer uma simples continuidade. O acordo feito, o livro se torna delicioso, além de engraçadíssimo!
Macunaíma é tudo, menos um herói! Não se cansa de tirar vantagem de todos, mesmo dos irmãos! e só quer saber de brincar, no mal sentido!
Suas aventuras atravessam o Brasil, e abragem toda a sua cultura, e dão reviravoltas intensas!
Mas afinal, se Macunaíma é tão malandro, por que gostamos dele? Porque ele é a personificação do jeitinho brasileiro, e de como passamos pelas maiores dificuldades sem perder o bom humor!
Não vou me aprofundar, pois não sou uma crítica literária, mas posso garantir que se você não espera lógica, se divertirá com O Herói sem Nenhum Caráter.
Bônus : Senhora – José de AlencarSENHORA
Após tornar-se milionária ao receber a herança do avô, a antes pobre e órfã Aurélia decide casar-se com o homem que a decepcionara tanto no passado: Fernando Seixas. Para isso, oferece a ele anonimamente um dote de cem mil-réis para que se case com ela. O desejo de ascensão social de Fernando faz que ele aceite a proposta. No entanto, seu casamento com uma das mulheres mais cortejadas do Rio de Janeiro se mostra uma enorme teia de desprezo, ódio e discussões, em que amor, dinheiro e prestígio social se entrelaçam com ferocidade. Para amenizar sua ganância e se livrar das humilhações de Aurélia, Fernando trabalha incansavelmente para pagar sua “dívida” matrimonial com a esposa. Contudo, mesmo que ele consiga levantar a quantia, será que conseguirá obter o perdão de Aurélia?
Por que ler? Dona de seu destino…
Assim é Aurélia Camargo, a protagonista de “Senhora” (José de Alencar) que após viver na miséria durante a infância e parte da adolescência, recebe uma herança inesperada de seu avô arrenpendido de não ter ouvido seu filho – pai de Aurélia – e ao final de sua vida, resolve ressarcir a menina e sua pobre mãe, D. Emília Lemos, deixando-lhes sua fortuna.
Aurélia apesar de pobre, era dona de uma beleza angelical que enlevava até os corações mais duros; assim foi com Fernando Seixas, que por ela se apaixona, mas abandona-a por conta de um casamento de conveniências.
Desiludida e humilhada, Aurélia dá a volta por cima ao tornar-se única herdeira de seu avô, e decide vingar-se da desdita imposta por Fernando, apesar de todo amor que sentia por ele.
Um romance envolvente e inteligente de Alencar que critica os costumes de sua época com elegância e certa ironia, através de uma personagem diferente de outras heroínas românticas, já que Aurélia Camargo não era como as demais mulheres da época; ela era mais do que nunca Dona de seu Destino…

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