“Quem eles pensam que são pra te apontar, não sabem da sua luta não entendem seu linguajar”
Brasil é terra de tanta musicalidade, diversidade de culturas e miscigenação cultural que chega a ser tendencioso dizer que nosso país se resume musicalmente falando em artista x ou y. Com tantas vozes, sempre grita mais alto aquela que a maioria das vezes é reprimida pela sociedade, e sendo assim, se eles nos reprimem, vamos nos certificar que eles lembrem-se de nós pela arte!
Thais da Silva de 24 anos ou simplesmente, MC Tha. Uma mulher negra, de cabelo empoderado, crespo, e religião de matriz africana que vem diretamente das quebradas da zona leste de São Paulo. Começando a participar de bailes funks aos 15 anos e na vida profissional, cursando jornalismo. Hoje como artista, Tha já demonstra que veio para ficar na cena de revelações do funk.
Com sua música e discurso forte, a paulistana vem com tudo para quebrar os padrões da “perfeição” musical de fachada e estereotipada brasileira que não existe, afinal não é todos os dias que você topa de cara com a música de uma mulher negra, da favela, com raízes genuínas que trazem a realidade e devoção por seus guias espirituais e orixás em meio ao que é massivo na rádio e o preconceito.
MC Tha significa resiliência e liberdade em tempos onde ser quem você é, levantando a bandeira, exaltando minorias, incomoda.
Tha traz sua primeira música oficial em 2014, “Olha Quem Chegou” mas seu devido reconhecimento ainda pela massa periférica chega com “Bonde da Pantera”, contando ainda com a colaboração de Omulu e King Doudou. Nada superou sua capacidade de explorar um visual completamente conceitual, minimalista e tão popular ao mesmo tempo, inclusive foi o momento que a gente decidiu se render aos encantos dessa moça paulista cheia de história para contar.
Já em 2018, Tha lançava seu clipe de maior destaque até o momento, “VALENTE”.
“Que haja flor no seu caminho e no meu caminhar”
MC Tha traz em seu clipe uma imagética tão diferente que ousamos até dizer e sem medo de críticas que é tão apurada, fina e sutil quanto a arte dada por Beyoncé em suas produções visuais. Olhos fechados, cabelo volumoso, leve maquiagem, um cordão de chaves, e voz fez todos nós prestarmos atenção nela, mas também para o conceito e o resplendor de sua letra.
Afinal a gente pode até rebolar a raba, mas rebolando com conceito, né?.
Se Tha já trazia uma essência com todo um conceito, isso se intensificou em seu mais novo videoclipe e single “Rito de Passá”
“Abram os caminhos!”
Aqui a cantora decidiu mostrar suas raízes e acima de tudo a coragem de falar sobre um tema que ainda é tratado como um tabu na nossa sociedade, principalmente sendo uma religião originada por matriz africana, a Umbanda.
Mas antes de falar sobre “Rito de Passá”, Mc Tha revelou que já tinha influências em sua infância e adolescência… sendo apenas recentemente o seu batismo na religião que sintetiza elementos cristãos e africanos.
O nome do novo single vem da frase “Rito de passagem”: celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade ou religião. Através de metáforas, Mc Tha faz a celebração aos orixás provenientes da Umbanda.
“A flecha atirei
Onde caiu, bradei ”
MC Tha faz menção a Oxóssi, orixá guardião da natureza e da caça. Seu simbolo são o arco e a flecha, se saudá a Oxóssi como o brado “Okê Aro” que significa, “Dê seu grito, Majestade”.“O céu relampeou
A chuva vai chegar ”
Aqui a funkeira saúda a Orixá que comanda os ventos e as tempestades da natureza, Iansã que tem como saudação a palavra “Eparrei!”, que significa “Salve o Raio”!“Meu corpo foi ao chãoNa palha pra curar
Lavei a alma e então”
Obaluaê é o orixá referenciado nesta parte, divindade responsável pela cura das doenças.“Me refiz na lama ”
Mc Tha saúda a orixá que segundo a história proveniente da umbanda e do candomblé é a responsável pela criação dos humanos. Nana criou e moldou os humanos através de um punhado de lama.“Vi pedra rolar”
Saudando o orixá do fogo e da justiça, Mc Tha homenageia Xangô. Segundo a história, Xangô é uma divindade que mora nas alturas das montanhas. Quando a pedra de Xangô rolar de uma montanha, significa a aplicação de uma justiça.“Dancei com a correnteza”
Mc Tha traz Oxum para sua canção. Orixá dos rios, do ouro e da fertilidade feminina. Seu brado é a frase “Ora ie iê ô” que significa “Olhe por nós minha mãe”.“Me deixei pro mar ”
A cantora finaliza suas saudações com Iemanjá, a orixá que segundo o sincretismo é a mãe de todos os outros.
Além das saudações, a cantora também representa suas entidades espirituais em diversos cenários como a floresta, rios e cavernas. O clipe ainda mostra a artista em seus momentos religiosos recebendo as irradiações energéticas de seus guias espirituais, na chamada e conhecida incorporação.
“O tempo que virá”
Mc Tha já afirmou que seu primeiro EP será lançado a qualquer momento e promete trazer mais uma vez uma boa dose de musicalidade espontânea, impactante, empoderada e conceitual, falando sobre suas verdades e vivências na vida e religião.
Thais da Silva, uma mulher negra, da favela e macumbeira e a gente faz questão de citar estes pontos que a exaltam sim!
No nosso cenário político e social, em 2019, um retrocesso. Parece que ainda é um problema e quase um crime ser uma mulher auto suficiente, que luta pela igualdade da favela e ainda saudar as energias da natureza, seus orixás. É dor de cabeça de mais para o conservadorismo, né?
Assim como fizemos editoriais sobre Anitta, Pabllo Vittar, Iza, Gloria Groove e Jão e sabíamos com convicção pura de que estes seriam futuros nomes da música brasileira, temos a confidência, o crédito e a fé de que Mc Tha é um dos próximos rostos da musicalidade nacional.
Vale lembrar também que a moça já tem colaborações com Mateus Carrilho e Jaloo, por quem adquiriu um enorme carinho.
Uma aposta certeira e de qualidade.