PFBR avalia: 10/10!
É quase impossível falar sobre ótimos filmes nacionais em que “O Auto da Compadecida” não esteja nesta lista. Lançado há 24 anos, o longa se tornou um clássico do cinema brasileiro. E tem os seus grandes méritos com um roteiro tão bem-produzido que desbanca facilmente muitos filmes recém-lançados.
Depois de mais 2 décadas, “O Auto da Compadecida 2” chega aos cinemas dando continuidade a história do primeiro filme e atendendo as expectativas do público para a sequência.
Dirigido por Guel Arraes e Flávia Saraiva, “O Auto da Compadecida 2” acontece o retorno inesperado de João Grilo, novamente interpretado pelo majestoso Matheus Nachtergaele, e o seu melhor amigo Chicó, papel de Selton Mello, que fica surpreso com a volta repentina do seu velho amigo, pois a toda cidade de Taperoá acreditou, nestes últimos 24 anos, que Grilo havia morrido. E, através dessa premissa, a trama da sequência se desenrola com João Grilo sendo ovacionado e se tornando uma celebridade no sertão da Paraíba por ter ressuscitado.
O filme mantém, de forma agradável, o humor caricato dos protagonistas. João Grilo e Chicó são dois homens do interior do nordeste, que por mais tenha se passado mais de 20 anos, as dificuldades caminharam com eles. Ambos os personagens continuam sendo a verdadeira base e essência da história, trazendo a nostalgia da pouca intelectualidade e simplicidade da rotina nordestina. Talvez esse tipo de humor não agrade mais a sociedade como agradava nos anos 2000, mas “O Auto da Compadecida” tem o aval para ainda criar personagens nesse estereótipo, pois a forma retratada é uma celebração da diversidade brasileira e não um insulto às diferenças do país.
Taís Araújo no papel Nossa Senhora é grandioso. Se no primeiro filme Fernanda Montenegro eternizou o papel, Taís Araújo soube trazer uma nova representação da personagem bíblica em um tom maternal e empático que, apesar de serem poucas cenas, conseguiu manter excelente atuação para o público.
Personagens novos, como Antônio do Amor, interpretado por Luis Miranda, são um acréscimo a excelência de humor que só vemos em “O Auto da Compadecida”. O radialista Arlindo, interpretado por Eduardo Sterblitch, vive uma rivalidade com Coronel Ernani, papel de Humberto Martins, que buscam conquistar o eleitorado da cidadezinha através da influência do milagre da ressureição de João Grilo. A narrativa é humorística, mas que respinga em um bom tom à uma crítica aos políticos que oprimem os mais pobres em detrimento de seu cargo público. “O Auto da Compadecida 2” é, acima de tudo, uma crítica social e política que não é preciso ir muito longe para reconhecer esses problemas na vida real.