Na última sexta-feira, 31, Chlöe lançou seu aguardado ato solo, o álbum ‘In Pieces’. No trabalho já contava com os singles, ‘Pray It Away’ e ‘How Does It Feel’, colaboração com Chris Brown, a cantora adentrou no R&B de influência noventista tentando encontrar a própria identidade e apresentar alguma inovação em relação ao que já explorou musicalmente.
No momento, porém, o álbum não parece ter impressionado os especialistas e nem mesmo o próprio público, que esperava algo mais interessante de uma das poucas artistas cuidadas de perto por Beyoncé.
No agregador de críticas, Metacritic, o ‘In Pieces’ acumula uma média 65/100, baseada em cinco críticas profissionais, enquanto o público geral concedeu ao trabalho a média de 7/10. A título de comparação, o último trabalho em parceria com sua irmã, Halle Bailey, o exaustivamente promovido e tocado durante a pandemia, ‘Ungodly Hour’, chegou à média de 81/100, baseada em nove críticas.
O site especializado Pitchfork, conhecido por suas críticas duras, explica que Chlöe passa tempo demais tentando definir o que ela não é – “Halle, uma puritana pregadora da Bíblia, uma absolutista moral” – e, no fim das contas, o ouvinte não consegue ter uma ideia concreta de quem a cantora, em seu ato solo, realmente é.
A publicação frisa como o trabalho de Chloe x Halle, como duo, possui certa magia por conta de ser produzido, em sua maioria, apenas pelas irmãs, porém, o material solo de Chlöe “parece fabricado ao ponto da esterilidade”, aproveitando para citar faixas que considera genéricas, como ‘Treat Me’, que não faz parte do álbum, e as faixas, ‘Worried’ e ‘Looze U’.
Além disso, cita que, apesar de contar com colaborações de alto perfil em seu debut solo, a parceria com Missy Elliott, por exemplo, é desperdiçada em ‘Told Ya’, descrita como “exercício de aquecimento vocal”, a qual é comparada com ‘Fly Girl’, do recém lançado grupo britânico, FLO, que reimagina com sucesso um dos maiores hits da veterana.
A Pitchfork também aproveita para cutucar a ferida ao pontuar a parceria de Chlöe com Chris Brown, se referindo ao cantor como “notório agressor” e afirmando que se trata de uma “tentativa desesperada de assegurar um hit” para o projeto; bem como, aponta que o trabalho dela funciona com Halle porque a mais nova equilibra suas “tendências maximalistas”.
Contudo, a publicação não é de todo cruel e elogia os vocais da cantora em trechos de ‘Heart On My Sleeve’, apontando que poderia “levitar em pontes inspiradas de ‘Pray It Away’ e ‘Make It Look Easy’” e que “esta é a Chlöe com ouvidos para arranjos vocais de outro mundo que capturou a atenção da Parkwood e do mundo”, se referindo à ela como “uma das maiores vocalistas de sua geração” – o que, de quebra, torna inexplicável o que fez com sua voz na faixa com Missy Elliott.
A Pitchfork responde à necessidade de Chlöe de se afastar da crença de que é gêmea, em aparência e comportamento, de Halle após tantos anos compartilhando experiências e looks parecidos, de forma dura, finalizando: “Agora que Halle é uma princesa da Disney, Chlöe faz cosplay de dominatrix. O ‘In Pieces’ encontra um destino pior do que a controvérsia: a banalidade”.
Já o New Musical Express aponta como o material solo de Chlöe levanta questões sobre como a cantora e sua gravadora escolheram esculpir sua identidade solo como artista, citando como os singles anteriores ao álbum, ‘Have Mercy’ e ‘Treat Me’, serviram para deixar claro como suas habilidades vocais podem ser maleáveis, embora o fato de serem muito genéricos tenham feito a ela um desserviço.
O artigo comenta que era de se esperar que o ‘Ungodly Hour’, o qual caminha por gêneros diversos de maneira bem sucedida, inevitavelmente comparado com o debut solo da cantora a esta altura, pudesse ser um “guia” para sua experimentação com estruturas musicais, mas não foi o que aconteceu.
O NME aponta que, ainda assim, o “‘In Pieces” é uma versão fragmentada do talento de Chlöe como compositora e produtora”, apontando que sua voz e escolhas de produção continuam “fortes, focadas e adaptáveis”. Porém, aponta o problema de juntar a cantora na estreia com Chris Brown, “um artista que possui um histórico muito público de violência contra as mulheres”, em uma estratégia utilizada por outros nas mesmas condições dela, como Normani e Ella Mai, além de Jack Harlow e Lil Baby, apesar da polêmica.
A publicação não se alonga muito em sua avaliação (60/100) e aponta que há momentos, “onde Chlöe se levanta por mérito próprio, e você se vê torcendo por ela novamente”, especialmente quando “permite que seus arranjos reflitam a euforia das letras” se mantendo “serena em sua luxúria e intocável em sua confiança”.
Para a crítica, ‘Pray It Away’ é o ponto mais brilhante e fora da curva do álbum, comparando o single ao recente sucesso de SZA, ‘Kill Bill’, que brinca com a possibilidade de um crime passional, refletindo que “este é o nível de melodrama pop que Chlöe desesperadamente deseja compartilhar com o mundo há muito tempo”. Contudo, o NME finaliza que “é decepcionante, portanto, que levou anos de mensagens inconsistentes para chegar até aqui”.
O Clash determina, de outro lado, que o ‘In Pieces’ “é uma sólida introdução à obra R&B-pop mais explícita de Chlöe”, ao mesmo tempo tempo que se trata de um projeto “ansioso, angustiado e frenético”, como se a artista quisesse mostrar demais suas habilidades e não tivesse muito controle sobre isso, o que converge com o que o Beats Per Minute também aponta ao afirmar como o projeto tem “menos foco” que o ‘Ungodly Hour’ e como a performance de Chlöe soa maior do que as músicas do álbum, que nem sempre a acompanham.
A publicação comenta que a cantora brilha na produção vocal, “o maior maestro unindo e remendando harmonias em treliças estreitas e intrincadas” do trabalho, brilhando “quando recebe espaço para transmitir a fragilidade de suas faces, pública e privada”, porém crava que o álbum em si, de apenas 37 minutos, é rápido e, ao mesmo tempo, “sem fôlego”.
Segundo o Clash, o brilho do “In Pieces” se encontra em uma primeira metade mais uniforme, mas existem canções dentro do projeto que são meros “esboços fracos” e “não os retratos em cor totalmente formados” que deveriam ser, deixando claro que, apesar da produção vocal chamar a atenção, afinal Chlöe é uma grande vocalista, não é o suficiente para tomar o álbum forte por si próprio.
Apesar de considerar “uma entrada funcional ao impressionante panteão de trabalhos” da artista, a publicação termina apontando que ela deve se debruçar mais às próprias peculiaridades de produção em seu próximo trabalho solo, o que o Beats Per Minute também sinaliza ao afirmar que “é apenas um passo da jornada em direção à grandeza musical, que corresponde ao talento já existente” em Chlöe.