Durante episódio do podcast, The Witch Trials of J.K.Rowling, a escritora de uma das séries de livros mais famosas dos últimos anos, voltou a comentar sobre seus polêmicos posicionamentos a respeito de pessoas trans.
Segundo a autora, quando foi ao Twitter postar uma série de tweets em que defendia um ponto de vista, onde mulheres trans estavam prejudicando os direitos de “pessoas que menstruam”, ou seja, mulheres não trans.
Na época, ela escreveu: “Se o sexo não é real, não há atração pelo mesmo sexo. Se o sexo não é real, a realidade viviva por mulheres globalmente é apagada. Eu conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo [biológico] remove significativamente a capacidade de muitas de discutir suas vidas. Não há ódio em falar a verdade”.
Rowling também escreveu no topo de seu Twitter: “Criando um mundo pós-COVID 19 mais igual para pessoas que menstruam” e também ficou conhecida por seguir outras contas de pessoas conservadoras na mesma rede social.
Conforme a autora conta, ela possuía consciência do “poder de destruição” de seu posicionamento quando foi ao Twitter, mas, ainda assim, a reação a deixou “realmente furiosa”.
“Eu, absolutamente, sabia que se eu falasse, muitas pessoas que amariam meus livros ficariam profundamente insatisfeitas comigo. Pessoalmente, não foi divertido e houve tempos em que fiquei preocupada pela minha segurança e, mais pesadamente, pela segurança da minha família. O tempo vai dizer se entendi errado. Eu só posso dizer que refleti dura, profunda e longamente sobre isso e eu ouvi, eu juro, o outro lado”, frisou no podcast.
Ainda, ela justificou: “Eu escrevi aquele artigo sob o pano de fundo do que eu vejo como uma grande injustiça, [com] pessoas tentando calar mulheres… Então, eu estava nervosa e “irreverente”. […] E aquilo foi como jogar uma granada no Twitter. Era minha intenção soltar uma granada? Não. Eu estava apenas mantendo minha própria fúria canalizada. Então lá se foi.”, conta Rowling.
J.K., também, acrescentou que os ataques da esquerda foram diferentes, pois assumia que compartilhava certos valores com pessoas desse espectro político. Porém, ela alega que diversos fãs de Harry Potter apoiam seu posicionamento:
“Mas, ao mesmo tempo, tenho que dizer, uma tonelada de fãs de Potter ainda estavam comigo. E, na verdade, uma tonelada de fãs de Potter ficaram gratos por eu dizer aquilo”, comentou a autora, que diz não se arrepender da escolha que fez há três anos.
“Eu mantenho cada palavra que escrevi lá, mas a questão é: qual é a verdade? E eu estou discutindo com pessoas que estão, literalmente, dizendo que sexo é uma construção, que não é real”, argumentou Rowling. Em um episódio do podcast, ela já havia comentado que estava aberta aos debates:
“Se você quer debater comigo, eu estou absolutamente aberta a isso. E eu acho que já provei que estou muito disposta a me envolver em ideias. Mas eu notei uma notável desintegração em engajar ideias. A resposta é ‘Bem, nós não podemos te ouvir. Você é má. Você não deve ser ouvida.’. Para mim, isso é, intelectualmente, incrivelmente covarde. Eu não acredito que qualquer movimento sério se comporte dessa maneira”, refletiu.
Em outro ponto do podcast, a autora de Harry Potter lamenta por aqueles que se recusam a discutir as questões de gênero e identidade de gênero: “Eu, absolutamente, acredito que existe algo perigoso sobre este movimento e ele deve ser desafiado. Minha posição é que essas mulheres ativistas, no modelo em que atualmente são vistas, ecoam exatamente o que eu estava avisando em Harry Potter.”
No último episódio do programa, a autora leu alguns trechos de seu ensaio, ‘J.K. Rowling Escreve Suas Razões para Comentar sobre Sexo e Questões de Gênero’, o qual escreveu em 2020: “Se você pudesse entrar na minha mente e compreender o que eu sinto quando leio sobre uma mulher trans morrendo nas mãos de um homem violento, você irá encontrar solidariedade e gentileza. […] Ao mesmo tempo, eu não quero fazer meninas [nascidas meninas] e mulheres se sentirem menos seguras. Quando você escancara as portas dos banheiros e muda as salas para qualquer homem, que acredite ser ou que se sinta como mulher – e, como eu já disse, os certificados de confirmação de gênero agora podem ser concedidos sem necessidade de cirurgia ou hormônios – , então, você abre a porta para todo e qualquer homem que queira entrar. Essa é a simples verdade.”
Já no primeiro episódio do ‘Witch Trials’, Rowling alegou que “nunca quis deixar ninguém chateado”, mas não se preocupa com seu legado: “Eu não ando pela minha casa pensando sobre meu legado. Sabe, que jeito pomposo de viver a vida andando e pensando ‘o que vai ser do meu legado?’ Que seja, eu estarei morta. Eu me importo com o agora.”
O podcast é apresentado por Megan Phelps-Roper, que cresceu sob os ensinamentos da Igreja Batista de Westboro, conhecida por suas crenças extremistas. Os comentários de J.K. Rowling sobre pessoas transgênero já foram criticados por parte do elenco da saga ‘Harry Potter’, como Emma Watson, Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Eddie Redmayne.