De uma coisa é certa: o impacto dos dois últimos álbuns da Beyoncé na indústria fonográfica norte-americana foi estrondoso.
Além dos dois discos terem revolucionado os arquétipos de divulgação de materiais em todo o mundo, a cantora também consagrou os trabalhos como os mais comercializados nos anos em que eles estiveram de forma fresca nas prateleiras e nos banners de divulgação das lojas digitais.
Porém, quando falamos de hits ou as canções que não foram extraídas como singles posteriormente, a realidade é bem diferente, nas rádios Pop, aquelas que tocam as principais e mais bombadas músicas no país. Assim como tivemos os questionamentos da restrição de Beyoncé e suas vitórias apenas nas categorias voltadas para os artistas negros no Grammy, como “Melhor Performance de R&B” ou “Melhor Álbum de R&B/Hip-Hop”, algo semelhante veio incomodando alguns editores da Billboard.
Se os álbuns fazem tanto sucesso, por que as canções não estão tocando nas principais rádios?
Mesmo com singles que conseguiram tabelar a Hot 100 – parada mais importante dos EUA – com a explosão dos seus lançamentos, as músicas não estão tocando muito bem nas rádios populares, ou seja, aquelas em que categorizamos como Estações Pop.
Em um artigo publicado há algumas semanas no site oficial da própria Billboard, o jornalista questiona o motivo de que: a última música que teve um bom impacto nas estações mais populares dos Estados Unidos (#1) sem ser alguma voltada para o segmento Urban/Hip-Hop foi “Single Ladies”, de 2008. Curiosamente a canção foi o último #1 da artista na Hot 100.
“Sorry” por exemplo, o single de maior sucesso nas rádios pop do sexto álbum dela, atingiu apenas a posição #33 na tabela principal das canções mais tocadas nas rádios norte-americanas. Já quando falamos nas de segmento Urban/Hip-Hop a faixa chegou na posição #3, ainda em julho de 2016. E não é só isso. “All Night”, apesar de ser uma poderosa balada, canção predileta do “Lemonade” da artista e ainda mais radiofônica do que muitas outras, está fora do chart principal das rádios pop, por exemplo.
Se continuar assim, “Lemonade” vai se tornar o primeiro disco de Beyoncé a não conseguir nenhum número #1 em quaisquer charts de estações, sejam Pop ou de Urban/R&B – apesar dos três Top 10 singles da era neste segmento separado da audiência radiofônica dos EUA.
“Beyoncé vende uma tonelada de discos, o que é a coisa mais fácil a se fazer nesse caso”, diz Rob Stringer, presidente da gravadora da cantora, a Columbia Records. “O fato é que o pop que é cantado por jovens artistas nos dias de hoje são preferências de adolescentes e Beyoncé já passou dessa fase, quando estava com as Destiny’s Child. As rádios deveriam tocar mais suas músicas? Claro. Mas isso a torna menos artista? Claro que não. No final do dia, sua música estará em todos os lugares. Se não está na rádios pop, eles estão enganados, porque estão apenas errados sobre o que colocam para tocar em suas listas de reprodução.”
Quando questionado se a cantora está sofrendo um possível boicote das rádios em meio as polêmicas do começo desta fase, como o vídeo de “Formation” e a questão da polêmica com os policiais, um dos mais importantes diretores de marketing das rádios Urban/Hip-Hop deixa claro:
“Há uma conversa ‘fiada’ sobre o que aconteceu neste projeto. Como resultado disso, alguns equívocos fizeram editores e diretores dessas rádios agirem como ‘bem, ela está no “BlackLivesMatter e outras coisas, então, porque eu vou colocá-la na minha estação de rádio?”, afirma.
E continua, dando créditos ao segmento Urbano e Hip-Hop, que segundo ele deu total apoio ao trabalho desde seu lançamento:
“Posso dizer que quando você pensa em uma estrela do calibre dela, você apenas acredita que não existem essas divisões. Apoiamos o seu trabalho com todo o nosso coração, seus discos fazem totalmente bem para nós de todas as formas possíveis, e realmente não houve nada tão pop para estar dominando as rádios.”
“Lemonade” foi um dos discos mais vendidos de 2016, sendo o feminino mais comercializado com lançamento feito no ano passado. “Formation”, lançada no começo de fevereiro para divulgar a turnê de Beyoncé de mesmo nome – com arrecadação de mais de 256 milhões de dólares em menos de 50 shows – só veio ser tabelada na Hot 100 no lançamento do disco no final de abril, e mesmo assim, entrou no Top 10 da parada e ainda dominou o chart de singles mais vendidos não só do iTunes USA, mas também diversos outros países.
Certamente, o erro não é da Beyoncé, nem muito menos a forma que divulga seus trabalhos na era digital, mas sim a forma como radialistas e diretores dessas estações estão analisando o conceito de um hit.
“Mudando o jogo com aquele lançamento digital, pense onde você estava você quando aquilo saiu, eu parei o mundo.”
https://www.youtube.com/watch?v=wrENeTsnJNg