Cinco anos de "BEYONCÉ": como a cantora subverteu e revolucionou a indústria fonográfica com um lançamento surpresa, valorizando o formato álbum e o audiovisual na era do streaming

14 músicas, 17 clipes. Na madrugada do dia 13 de dezembro de 2013 os fãs da Beyoncé que estavam acordados tiveram um susto, ou melhor, quase uma parada cardíaca.

Uma das artistas mais importantes da nova geração de artistas no século XXI lançava de surpresa um disco completo, sem divulgação prévia de singles ou qualquer anúncio, seu quinto trabalho de estúdio. E não era só isso: tivemos clipes para TODAS as músicas. Um projeto ousado, inovador e extremamente arriscado.

A revolução da esfera digital

“A maneira como as pessoas experimentam a música mudou. Gostaria que os fãs tivessem a experiência completa de cada faixa, com acesso ao universo visual e à história de cada uma delas. Ainda existe gente demais entre o artista e seus fãs. Não queria ninguém entre nós desta vez. Quis apenas fazer a minha arte e entregá-la. Está feito”

Ao colocar o “BEYONCÉ” nas lojas digitais como um material audiovisual, Beyoncé não só trouxe de volta a glória e o poder imagético das super produções atreladas às músicas como questionou a indústria viciada em singles. Com o tempo e o avanço dos streamings, as pessoas não sentiam mais a necessidade de comprar um álbum completo ou apreciá-lo como alguém na década de 80/90 colocava um vinil ou uma fita cassete no reprodutor para apreciar um trabalho em sua maestria.

Se Michael Jackson ainda nos 80 praticamente salvou a MTV da falência graças ao icônico clipe de Thriller, podemos definir esse ousado projeto de Beyoncé como a segunda era de ouro da videografia, agora na revolução digital do stream. E não era para menos: inspirada no rei do pop, a cantora costurou cada canção do disco em uma narrativa sólida, que mostrava diversas faces de uma vida de agora mãe (BLUE), feminista (FLAWLESS***), vítima dos padrões estabelecidos para uma diva pop (PRETTY HURTS), os desejos sexuais humanos de uma mulher que ama e exalta o prazer sexual (ROCKET) e ainda o seu relacionamento com Jay-Z (DRUNK IN LOVE), que mais à frente no projeto “Lemonade” traria uma série de dilemas de traição.

A ousadia de uma artista pop consagrada

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“BEYONCÉ” é o primeiro trabalho cru de uma artista norte-americana texana que resolveu há alguns anos evitar dar entrevistas e deixar tudo transparecer apenas em suas músicas. Hits e mais hits em uma carreira de sucesso foram colocados de lado por uma estrela pop que inspira milhões de pessoas em todo o planeta. Ela queria mais, deixar uma marca, estender o legado e fazer do jeito certo. Sem prometer nada e analisar os resultados de sua casa comendo pipoca, e saciar a BeyHive que estava fervorosa desde a turnê “Mrs. Carter” (2013) que foi anunciada dois anos depois do último lançamento dela na época, o “4”. O nascimento de Blue Ivy foi um dos motivos no qual a artista demorou tanto para se apresentar na promoção desse trabalho, que apesar de consistente e com um desempenho bom, com músicas interessantes como “I Was Here”, “Countdown”, “End Of Time” e “Run The World” (Girls)”, dividiu opiniões a respeito do seu sucesso.

E talvez essa inquietação midiática e rixas com outras divas da música que estavam bombando em 2011, como Lady Gaga e Adele, foi um dos sopros no qual Bey catalisou seu pensamento de que a indústria fonográfica precisava sim voltar a valorizar não só o álbum completo de um artista, mas também a paixão pelo audiovisual que conta uma narrativa, uma imersão perfeita e idealizada dos sentimentos do artista quando criou cada canção. Ela estava cansada de lançar suas músicas e a pressão dos charts rotular seu trabalho como algo descartável, que não é memorável por não estar em um Top 10 da Hot 100. Era hora de dizer chega.

Ir contra a maré e a onda de singles e mais singles lançados em um curto período de tempo mostrou que um artista memorável só precisa de seu nome e um trabalho bem feito em estúdio para impactar milhões de pessoas. É lógico que não podemos comparar o nome de Beyoncé com artistas que estão começando. Sabemos que as gravadoras não são nada legais com vários musicistas que não dão lucro, e muitas vezes, os artistas precisam estar engessados a esse formato para ganhar público e talvez alguma relevância. Mas, com carta branca, o pontapé inicial da chamada revolução Beyoncé no mercado mainstream mostrou que os artistas negros tem sim muito a que mostrar e com o passar dos anos se tornaram os protagonistas dos principais gêneros musicais com louvor e inovação: seja no Pop, R&B, Rock ou Hip-Hop, o que é louvável e diretamente proporcional ao talento gigantesco deles.

O retorno da época de ouro do videoclipe

Até 1982, a MTV estava a três meses de ser fechada. Com uma programação relativamente fraca, não tinha gás para competir com outras grandes emissoras e havia uma grande discriminação com artistas negros. No livro “I Want My MTV: The Uncensored Story of the Music Video Revolution”, que conta a história da famosa emissora através de entrevistas com VJ’s, produtores e diretores, os escritores Marks e Tennenbaun revelam como o videoclipe foi essencial para que a MTV se tornasse relevante no cenário, vivendo sua primeira era de ouro a partir das ondas RGB dos grandes tubos. Um dos primeiros passos foi adicionar Michael Jackson e seu videoclipe de “Thriller” na programação. Um fenômeno, que transformou não só a empresa e sua visão para artistas do segmento, como ainda abriu portas para que essa parte imagética e tão importante para o entendimento de uma música pudesse ser explorada e apreciada. Logo depois, vimos Madonna, Shania Twain, Britney Spears, Christina Aguilera e chegando em Lady Gaga através das décadas. A última fechou a era de ouro extensiva que durou um bom tempo com suas produções gigantescas que mais pareciam curtas e a valorização da arte cinematográfica.

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E a partir daí, em 2013, Beyoncé reascende essa chama na apreciação do trabalho visual mostrando que o clipe é sim a alma de uma música e vai muito além da apenas divulgação. E claro, inspirada na realeza da música e nesse grande feito para a cultura pop, como vemos em “HAUNTED”, com referências aos trabalhos visuais de Madonna em “Justify My Love” e “Hollywood”.  Podemos definir como a nova geração da era de ouro que transformou uma emissora de TV, desta vez, não mais na televisão como costumava ser, mas na internet, nas lojas digitais, nas plataformas de streaming. Estamos na era dos bilhões de views. Milhões de visualizações em horas de estreia de produções e a valorização da Queen B para essa estética só reforçou como seu nome foi e ainda é muito importante para a reverberação dessa cultura.

O projeto

Para o disco, Beyoncé trabalhou com grandes nomes como Sia, Hit-Boy, Timbaland, Ryan Tedder, Frank Ocean, Drake e a personalidades políticas como a escritora africana Chimamanda Ngozi Adichie. Uma explosão.

No Twitter, foram mais de 1 milhão de menções ao trabalho em menos de 12 horas. O disco foi aclamado por grandes veículos de mídia e apontado como revolucionário pela Rolling Stone, Spin, Billboard, Pitchfork, e The Guardian, tendo nota 85 no Metacritic, sendo a segunda melhor nota dela por lá, perdendo apenas para o lançamento seguinte, o “Lemonade” de 2016.

Nas primeiras horas, marcou a melhor venda no iTunes digital em pouquíssimo tempo. Foram 617 mil cópias digitais do álbum em apenas três dias no iTunes norte-americano, quebrando o recorde de Taylor Swift. No mundo em 72 horas, foram quase 1 milhão! No total em todo o planeta foram 5 milhões de unidades até o momento, em grande maioria vendidas.

Vale lembrar que o “BEYONCÉ” demorou um pouco para chegar aos serviços de streaming, que começava a se tornar mais popular a partir daquela época, mas não era tão imponente quanto hoje. Sua permanência nas lojas digitais e posteriormente físico fazia também parte dos planos de Bey de fazer o seu público consumir um trabalho completo.

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Em 2014, tendo feito tudo isso na indústria e a colocando ela a seus pés a cantora ganhou uma homenagem da MTV norte-americana como ícone daquele ano, recebendo o “Michael Jackson Video Vanguard Award” (não era para menos, né) por conta de sua relevância com o trabalho para a indústria e a revolução do videoclipe. Como performance, um medley impecável de todas as músicas em 15 minutos que deixou o público extasiado.

https://www.youtube.com/watch?v=IAIW_W6PCKU

Por falar em premiações, também a frustração do trabalho não ter levado a categoria principal do Grammy, a de álbum do ano, em 2015. Com tamanha homenagem e aclamação, o público colocou o Grammy contra a parede por conta da nomeação do álbum de Beck para a categoria, que a maioria (e nós também) acreditávamos que deveria ter sido dela, com louvor.

Só nos resta apreciar esta obra-prima:

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