Billboard explica como Taylor Swift fez história com o ‘Midnights’ na Hot 100, confira

Nesta segunda-feira, dia 31, pela primeira vez em 64 anos de história, todas as dez primeiras posições da Billboard Hot 100 foram ocupadas por uma única artista: Taylor Swift, a qual colocou dez das treze faixas do ‘Midnights’ no chart. 

Os recordes de hits simultâneos e hits simultâneos do mesmo álbum já pertenceram, originalmente, a grandes nomes da indústria da música, como os Beatles (que subiram cinco canções para o Top 5 em 1964) e Michael Jackson (que colocou sete faixas do icônico álbum ‘Thriller’ no Top 10, ao mesmo tempo. As duas marcas, porém, já foram quebradas por um dos maiores rivais de Taylor Swift em números, no século XXI: em 2021, Drake colocou nove músicas no Top 10 da Hot 100 com o lançamento do super antecipado álbum, ‘Certified Lover Boy’

Vale ressaltar que a conquista é apenas uma das várias que marcaram a semana de lançamento do ‘Midnights’, uma vez que Swift também vendeu nesse período o equivalente a 1.578 milhões de unidades de álbum, de acordo com a Luminate – sendo a primeira semana mais notável de toda a sua carreira e ficando atrás apenas de Adele com o álbum ‘25’ em 2015, que vendeu o equivalente a 3.38 milhões de álbuns -, número que também inclui a venda de 575.000 unidades de discos de vinil do projeto, o que triplica o recorde de Harry Styles, que no começo do ano vendeu 182.000 vinis do ‘Harry’s House’

Considerando isso, a revista Billboard resolveu adentrar os 16 anos de carreira de Taylor Swift para explicar como a cantora foi capaz de quebrar os charts de um jeito tão histórico nesta semana. Vejamos:

Segundo a publicação, o ‘Midnights’ é a culminação de um quarto de década de boa sorte e decisões espertas. Na virada da década, as estatísticas da cantora ainda eram poderosas, mas pareciam estar correndo na direção errada: enquanto a primeira semana do álbum ‘1989’, em 2014, vendeu o equivalente a 1.287 milhões de discos, o ‘reputation’ caiu ligeiramente na seara comercial com o número de 1.238, o que foi seguido pelo ‘Lover’ (2019), que saiu da casa do milhão e vendeu apenas 867.000 unidades, além de ter sido o primeiro trabalho desde 2010 a não alcançar o primeiro lugar no Hot 100 (com os singles ‘ME!’ e ‘You Need To Calm Down’ debutando em #2). É claro que todos os trabalhos foram recebidos positivamente, mas nenhum tão celebrado como o ‘1989’, seu passo definitivo no pop, ou o ‘Red’ de 2012. 

Já o primeiro lançamento de Taylor Swift na nova década foi o indie-folk anunciado de surpresa, ‘Folklore’, o qual não reverteu totalmente os números em queda, tendo sido apenas ligeiramente melhor que o ‘Lover’ na primeira semana, com 846.000 de cópias vendidas. O álbum lançado em meio a pandemia foi o responsável por consolidar Swift com a crítica especializada e teve a maior resposta imediata dos fãs, bem como foi a primeira vitória como Álbum do Ano no Grammy desde o ‘1989’

Enquanto isso, o ‘Evermore’, disco irmão do ‘Folklore’, teve uma primeira semana muito menor em comparação aos demais, alcançando apenas 329.000 cópias vendidas. Apesar disso, o disco recebeu outro gramofone de Álbum do Ano no Grammy, voltou a arrebatar a crítica, angariando elogios, e passou 12 semanas combinadas no Billboard 200, ao passo que ‘Lover’ reinou apenas na primeira semana, além de ter alcançado o primeiro lugar da Hot 100 com os singles ‘Cardigan’ e ‘Willow’, respectivamente. 

2021, por sua vez, foi o ano das regravações, quando Taylor agraciou os fãs com novas versões dos álbuns ‘Fearless’ e ‘Red’, apenas começando a cumprir a promessa de refazer todos os seus álbuns de estúdio para deter os direitos autorais sobre as gravações originais. Apesar de o projeto, inicialmente, parecer comercialmente limitado, a cantora os transformou no que a Billboard chama de “bombas de nostalgia” para os fãs, uma vez que  ela, não apenas regravou cada faixa, mas também convidou outros cantores para colaborações, revisitou raridades não ouvidas de seu arquivo e canções notáveis, como a versão de dez minutos da favorita do público, ‘All Too Well’, a qual se tornou um dos lançamentos mais celebrados pela crítica e também debutou no Top 100, além de ganhar um curta-metragem com Sadie Sink e Dylan O’Brien – escrito, produzido e dirigido pela própria cantora.

Consequentemente, as regravações se tornaram “mini” sucessos da carreira de Taylor Swift, uma vez que o ‘Red (Taylor’s Version)’ debutou na primeira semana com 605.000 cópias vendidas, um desempenho melhor do que qualquer álbum original daquele ano, com exceção do ‘Certified Lover Boy’ e do ‘30’ de Adele

A Billboard conclui que todo esse sucesso do início da década de 2020 chegou sem um lançamento adequado de um álbum pop, tão aguardado pelos fãs. Então, quando finalmente aconteceu no dia 21 de Outubro com o ‘Midnights’, retornando ao synth-pop alternativo já explorado em outros momentos de sua carreira, explodiu em números com a antecipação construída a partir de dois anos e meio de projetos bem recebidos, praticamente como se fosse o primeiro disco oficial de Taylor Swift em uma década inteira. 

Ainda, a revista chama atenção para o que considera o perfeito equilíbrio entre surpresa e hype. A última década de Taylor Swift na música é um caso fascinante sobre as vantagens e desvantagens do que se conhece como o lançamento tradicional, mais estendido, em contrapartida ao modelo mais recente exigido pelo mercado. 

Parte do choque que acometeu a indústria quando a cantora anunciou o lançamento do álbum ‘Folklore’ em 2020 foi pelo fato de que ela sempre havia optado por um estilo mais tradicional de lançamento, onde preparava seu público através de singles, clipes e aparições públicas e performances em programas e premiações para o fim de assegurar que todos soubessem que estaria chegando um novo álbum. Porém, quando esse tipo de estratégia saiu pela culatra com a recepção morna do single ‘ME!’ (feat. Brendon Urie) para ‘Lover’ e a mídia fez com que Taylor parecesse um pouco fora de compasso com o ritmo do pop, como gênero, na era do streaming, ficou claro que algo tinha que ser mudado.

Apesar de manter a mesma abordagem para o ‘Folklore’ e o ‘Evermore’, que foram anunciados apenas na semana em que seriam lançados, com o ‘Midnights’, Taylor Swift mudou de estratégia: o projeto foi anunciado meses antes, em Agosto, no MTV Video Music Awards – onde também ganhou os prêmios de Clipe do Ano e Curta-Metragem com ‘All Too Well’ -, mas a cantora não lançou nenhum single como prévia. 

Assim, ela investiu em outros tipos de conteúdos relacionados ao projeto, como a temática, imagens, títulos de canções e outros, tratando cada pedaço de informação como se fosse a peça de um quebra-cabeça que, eventualmente, se encaixaria a partir do lançamento. Além disso, uma vez que o projeto saiu, à meia-noite daquele dia, Taylor Swift ainda tinha uma carta na manga: o álbum ‘3AM Edition’, que chegou às três da manhã, é claro, com sete músicas não esperadas pelos fãs, pronta para parar o mundo dos streamings. 

O resultado final foi um “equilíbrio magistral”, segundo a publicação, entre a Velha Taylor e a Nova Taylor, criando expectativas sobre o álbum com antecedência o bastante para fazer o mundo saber sobre o lançamento e conseguindo manter os segredos e construir o mistério em torno do projeto, sem sobrecarregar os ouvintes em potencial antes mesmo de estes terem a chance de apertar o play. 

A Billboard elenca como uma das razões para Taylor Swift ter alcançado o status histórico dessa semana o inevitável primeiro single. Isso porque, com abordagens diferentes ou não, mesmo que se considere mais compositora do que qualquer outra coisa, a cantora é pop-star o bastante para saber que, não importa como a crítica te aclame, quão coerentes e repletos de declarações sejam seus trabalhos ou quanta boa sorte se tenha como artista, se quiser se manter como uma verdade estrela do pop, de vez em quando é preciso dar às pessoas o que elas querem: um inegável single pop. 

Como já demonstrado, Taylor não lançou um lead-single em preparação para o álbum ‘Midnights’, mas, ainda assim, ficou bastante claro no dia de seu lançamento qual seria o primeiro hit advindo dele. ‘Anti-Hero’ não chegou somente com seu próprio clipe ambicioso e repleto de propaganda tanto na TV – no intervalo do jogo de futebol americano da NFL – como no Youtube e TikTok através da #TSAntiHeroChallenge, mas também trouxe consigo um refrão poderoso, cujo potencial para memes foi inconfundível desde a primeira audição. Assim, ‘Anti-Hero’ foi imediatamente abraçada pela internet e pelas rádios pop, viralizando no Twitter e no Instagram por conta de suas auto-referências e debutando no 13° lugar na Billboard Radio Songs dessa semana, a posição mais alta em que a cantora já esteve em sua carreira. 

A Billboard assinala que não encara com surpresas o fato de ‘Anti-Hero’ ter alcançado o topo da Hot 100, dentre todas as demais canções do álbum, pois também detém sua parte no resto da dominância da cantora no chart ao fazer tudo o que um lead-single deve fazer: adentrar todas as facetas da cultura pop atual, ficar irremediavelmente preso em sua cabeça e se certificar de que até tios e avós do mundo saibam que Taylor Swift está de volta. 

Ainda, há outro aspecto a ser encarado para justificar o status atual da cantora: a vantagem da época. Segundo a revista, o atual feito histórico de Taylor Swift, da mesma forma que aconteceu com Dake em 2021, não significa necessariamente que ela seja mais popular do que os Beatles e Michael Jackson, quando estavam no auge. Pelo contrário, Swift possui mais vantagens para competir nas paradas em 2022 do que esses ícones do pop tinham em seus respectivos picos comerciais, quando as canções deveriam ser, especificamente, lançadas e promovidas como singles para serem elegíveis a Hot 100. 

Essas regras foram eliminadas em 1998, mas não foi até o crescimento do iTunes na década seguinte – e mais ainda, com o início da era dos streamings em 2010 – que as faixas de um álbum puderam ser consumidas individualmente o bastante para ter potencial de adentrar os charts na primeira semana. 

Além disso, como a música popular continua a crescer e se tornar cada vez mais difusa, super estrelas como Taylor Swift e Drake têm maiores oportunidades, a cada ano, de monopolizar as primeiras posições de charts como a Hot 100. Os concorrentes diretos das faixas do ‘Midnights’ essa semana foram Sam Smith e Kim Petras com o single ‘Unholy’ e Steve Lacy com ‘Bad Habit’, duas canções virais de artistas com sucessos muito recentes e modestos na parada, com picos de rádio, streaming e vendas que provavelmente não vão se sobrepor de forma total – por se tratarem de singles assim promovidos, não meras faixas de álbum. 

À medida que o volume de sucessos reais produzidos pelo pop continua diminuindo exponencialmente, fica cada vez mais fácil para artistas do tamanho e impacto de Taylor Swift chegarem e imediatamente comandarem a sala toda.   

A Billboard não esquece, porém, que a cantora deu um  segundo empurrão de última hora em seu trabalho, após o lançamento. Na quinta-feira, dia 27, último dia para a contagem do desempenho do projeto, Taylor Swift deu um impulso extra em algumas faixas do álbum: ‘Bejeweled’ e ‘Question…?’, nas versões originais e instrumentais, ficaram disponíveis para compra no site da cantora por apenas 69 centavos. 

O movimento ajudou as duas músicas a se tornarem duas das mais vendidas da semana (‘Question…?’ liderou na Digital Song Sales por todos os dias) e, certamente, assegurou que elas tivessem um lugar no Top 10 da Hot 100, ranqueando na sexta e sétima posição, respectivamente. Apesar disso, a revista indica que, de fato, os streams das músicas do ‘Midnights’ tiveram força o bastante para que todas as faixas entrassem na parada, mesmo sem a contagem de pontos de venda e desempenho nas rádios. 

Assim, Taylor Swift fez história e, dessa vez, seu recorde pode apenas ser igualado e jamais batido.

O que você achou?

0 0

Lost Password

Please enter your username or email address. You will receive a link to create a new password via email.