A divulgação pesada de “Formation” de Beyoncé e seu videoclipe que chegou na internet ainda no último sábado (6) não estão agradando uma parte da América do Norte.
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A produção filmada em Nova Orleans mostra através de metáforas e cenas reais o sofrimento da população negra com o preconceito ao longo dos anos. Em meio a isso, a cantora contrapõe as imagens com uma letra de empoderamento para uma nova geração da comunidade. Acontece que nem todos os negros estão se sentindo representados pela mensagem que Queen B queria passar com a música.
A jornalista e ativista Shantrelle P. Lewis escreveu um artigo no site “Slate.com” afirmando que o que Beyoncé fez com sua proposta e o audiovisual não foi algo bom, porque expôs através de imagens o trauma vivido pela população de Nova Orleans, cidade onde foi gravado o vídeo. Shantrelle também aponta “apropriação” da parte da estrela, já que ela não é da cidade e não sofreu como a população no local. “O vídeo de Beyoncé não é algo que nos defende. É apropriação.”, diz o sub-título da matéria.
No decorrer do texto, P. Lewis aponta que ao assistir o vídeo “recordou o trauma que viveu na cidade e os momentos difíceis que foram expostos de uma maneira glamourizada e de forma não politizada”. Beyoncé traz a questão do Katrina e a devastação que destruiu por completo a cidade em 2005 na sua produção. Os auxílios do governo em grande parte foram todos para a população branca, deixando a parte negra totalmente na miséria e com poucos recursos. Esse momento também foi criticado pela jornalista, que viu além de uma rua alagada e um carro de polícia.
“Enquanto alguns estão sendo feitos de idiotas com a metáfora do corpo de Beyoncé sendo engolido junto com o carro de polícia de New Orleans, eu lembro das imagens dos corpos inchados dos meus avôs e avós, primos, tios, tias e sobrinhas, que vagavam pelas ruas alagadas como peças descartadas de um grande lixão de sucata”, escreve em um trecho. “Vendo aquelas imagens, isso que me veio a cabeça.”
O olho da matéria – frase em fonte maior – traz um questionamento apontado por Shantrelle: “Para um artista se tornar política, ela deve recriar um cenário de uma enorme tragédia da população negra?”. Outros pontos do vídeo também são abordados por ela: no início, é possível ouvir um “bitch, I’m back by the popular demand”, voz de Messy Mya, um Youtuber Gay negro que morreu na cidade aos 22 anos. A autora da matéria acredita que Messy não deveria ter sido usado daquela forma, já que sua morte foi simbolizada de uma forma glamourizada, trazendo um “#swag” para um discurso de uma pessoa morta pela repressão e preconceito racial.
“Formation” foi lançada como promocional a próxima turnê mundial da cantora e no final do texto, Shantrelle P. Lewis junta a “política racial” feita por ela em seu vídeo com a monetização das apresentações que darão bilhões de dólares para a conta bancária da artista, apenas como uma forma de promoção de sua imagem por meio de militância.