Após o Festival de Cannes decidir abrir a mostra de 2023 com o filme, ‘Jeanne du Barry’, estrelado por Johnny Depp, uma nova campanha online está tomando conta das redes sociais.
Através da hashtag, #CannesYouNot, apoiadores de Amber Heard estão tentando chamar a atenção para o histórico do Festival, que, segundo eles, “celebra abusadores há 76 anos”.
Lançada há alguns dias por fãs de Heard, incluindo Eve Barlow, uma jornalista, ativista e amiga próxima da atriz de ‘Aquaman’, a campanha aponta que o evento tradicional do cinema mundial “parece orgulhoso de sua sua história apoiando estupradores e abusadores”.
Em um post específico, Barlow aproveita para utilizar a expressão em francês, “plus ça change”, a qual basicamente quer dizer que, “quanto mais as coisas mudam, mais continuam iguais”, se referindo ao comportamento da indústria do entretenimento.
Além disso, a jornalista postou uma série de fotos de homens de Hollywood com um passado questionável, que sempre foram presença constante no Festival de Cannes, o que incluiu, além de Depp, Roman Polanski, Harvey Weinstein, Woody Allen, Gerard Depardieu e Luc Besson, frisando: “Se você apoia Cannes, você apoia predadores”, escreveu no post.
Uma das organizadoras da campanha online, nomeada apenas Rebecca para conservar sua identidade, comentou à revista Variety que a maioria das pessoas envolvidas no ato, incluindo ela própria, são vítimas sobreviventes de abuso sexual.
Ademais, Rebecca aponta que o julgamento do caso de Johnny Depp e Amber Heard foi utilizado como uma “resposta ao movimento #MeToo ter se tornado viral”, conduzida pela indústria para que Hollywood volte ao seu “status quo”, ou seja, onde comportamentos abusivos e criminosos são normalizados: “Abrir o festival com Johnny Depp? Para ser franca, soa como um tapa na cara”, apontou a militante.
A cidade de Cannes proibiu protestos ao redor do evento, mas os organizadores da campanha #CannesYouNot, afirmam que a organização não pode fazer muito em relação aos protestos online.
À revista Variety, Rebecca frisou que a campanha foi pensada com base no caso de Depp e Heard, mas a intenção se tornou colocar uma luz sobre a “grande questão de homens acusados de abuso serem protegidos e isolados pela indústria cinematográfica”.
“Na esteira do momento decisivo sobre Harvey Weinstein, o Festival de Cinema de Cannes disse que tomava seriamente as alegações de abuso. Pensamos que seja hipócrita para o Festival ter uma política antidiscriminação e anti-abusos enquanto abre o evento com um filme estrelado por Johnny Depp”, afirmou.
Na última segunda-feira, 15, o presidente do Festival, Thierry Fremaux, respondeu às críticas. Durante um encontro com jornalistas, Fremaux afirmou: “Se você pensasse que é um festival para estupradores, você não estaria aqui me ouvindo, [e] não estaria reclamando que não consegue ingressos para entrar nas exibições”, concluiu.
Em outra oportunidade, Fremaux já havia defendido a abertura do evento com o filme de Depp: “Eu não sei sobre a imagem de Johnny Depp nos Estados Unidos. Para dizer a verdade, na minha vida, eu tenho apenas uma regra: liberdade de pensamento, liberdade de expressão e agindo dentro de uma estrutura legal…. Se Johnny Depp tivesse sido banido da atuação ou se o filme tivesse sido banido, nós não estaríamos aqui falando sobre isso”, disse.
A batalha judicial de Amber Heard e Johnny Depp ainda ressoa em Hollywood. Após um processo demorado, o ator perdeu uma batalha no Reino Unido envolvendo as acusações de abuso feitas pela atriz, e teve decisão favorável do júri, em 2022, em outro processo movido por ele nos Estados Unidos.
Considerando que, durante as batalhas legais, Depp foi demitido de franquias de sucesso como ‘Piratas do Caribe’ e “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, o filme francês, que estreará no Festival de Cannes nesta terça-feira, 16, ‘Jeanne du Barry’, se trata de um grande ‘comeback’. Confira o pôster:
Recentemente, foi anunciado que o ator irá dirigir um filme estrelado por Al Pacino, que será introduzido à imprensa também durante o Festival de Cannes, após 25 anos sem estar por trás das câmeras. Além disso, Johnny Depp firmou um acordo de publicidade com a Dior, para divulgar uma das fragrâncias da marca, que chegou ao patamar de 20 milhões de dólares.