ANÁLISE: combinação perfeita de seus álbuns anteriores, "Never Really Over" é um marco na vida de Katy Perry

Amplamente cercado por vibrações positivas, o novo single de Katy Perry, intitulado “Never Really Over“, chegou como uma brisa suave aos ouvidos dos katycats, que aguardavam por novidades da cantora com bastante ansiedade.

O contexto do videoclipe, embora possua várias camadas a serem exploradas, é apresentando ao público de maneira bastante prática, visto que, logo nos primeiros segundos, a história que está sendo contada por Perry se torna facilmente compreensível.

Após utilizar o meio de transporte que a leva diretamente para uma espécie de “retiro espiritual“, Katy revela, através de diversos elementos visuais, que estamos diante de um momento muito delicado em sua vida amorosa: na palma de sua mão direita, a metade de uma tatuagem que diz: “sinto sua falta“; a foto tirada com seu interesse amoroso do passado, coberta pela sombra de uma peça de decoração que pede: “deixe ir embora“; além do nítido isolamento da cantora em seu quarto, momentos antes de ela se render à nova experiência que irá transformar sua forma de enxergar o mundo.

Somente diante desse conceito, é possível salientar diversos aspectos interessantes a respeito do single como um todo. Associando o clipe aos versos iniciais da canção, percebemos que a intérprete não está disposta a viver o resto de seus dias lamentando o fim de seu relacionamento. Por si só, essa é uma atitude que demonstra muita coragem, pois exige que o indivíduo seja forte mesmo diante das recaídas.

Estou perdendo meu autocontrole / Sim, você está voltando a aparecer / Mas não quero cair nessa situação tão difícil / Juro que não farei isso novamente“: A partir do momento em que percebe que está se rendendo às antigas tentações, Perry opta por cuidar de si mesma, afastando-se de tudo que a coloca para baixo, com o intuito de se tornar senhora dos próprios desejos mais uma vez.

Na tentativa de associar essa mensagem à “vida real” de Katy, talvez fosse possível escolher entre dois caminhos:

A primeira rota indicaria uma possível referência ao relacionamento da cantora com o noivo, Orlando Bloom. Desde o início da relação, o casal manteve vivo o desejo de seguir unido, embora já tenha vivenciado conflitos que, segundo tabloides internacionais, indicavam um término definitivo a qualquer momento. Entretanto, a própria artista já confirmou que essa possibilidade é inviável.

A alternativa restante seria compará-la à carreira musical de Perry, principalmente quando se trata da conturbada era “Witness“. Após ser alvo de críticas da mídia e do público em geral, que não receberam com bons olhos a transformação da artista, é como se ela estivesse enfrentando uma crise existencial que a impedisse de seguir em frente como profissional do entretenimento. A pausa entre o álbum e seu real retorno à música poderia ser vista como a reabilitação exibida no clipe, para que a saúde mental e física fossem tratadas como prioridade.

No momento em que Katy inicia o processo que irá curar sua alma e seu coração, fica visível o papel que a música ocupará ao longo da jornada, já que, durante a prática de atividades em grupo, vemos a cantora ouvindo e cantarolando os versos de “Never Really Over“. Ao que tudo indica, a faixa acabou se tornando um espécie de “mantra” para ela, ou seja, um instrumento capaz de guiar sua mente na direção desejada.

O fim não significa que acabou de verdade / E se eu pensar nisso, talvez você volte novamente / E eu vou ter que lhe superar outra vez“: mesmo contando com o apoio das pessoas que também estão se curando no retiro espiritual, há claras referências às dificuldades encontradas por Perry no caminho para alcançar seu objetivo.

A principal delas seria a cena em que a intérprete aparece presa em uma corrente com corações nas pontas, obstáculo simbólico suficiente para que ela não siga em frente com rapidez.

Como o processo não está sendo tão fácil quanto o esperado, Katy aposta em métodos alternativos para se esquecer do ex-amor de sua vida. Enquanto a letra cita hipnoterapia, os visuais indicam que acupuntura e terapia cupping (ventosaterapia) também fazem parte das tentativas. A decisão foi tomada, muito provavelmente, porque a perda de uma pessoa tão significativa também pode gerar lesões físicas em um indivíduo.

Com o emocional abalado, o corpo também começa a sentir as consequências do sofrimento.

Com o passar do tempo, percebemos que o tratamento começa a gerar frutos positivos para a cantora, uma vez que consegue canalizar o sofrimento para transformá-lo em algo benéfico. A cena em que ela utiliza as próprias lágrimas para regar um coração aprisionado em uma garrafa remete à “cura que vem de dentro“. Em meio à dor que está sentindo, Perry percebe que a experiência também pode servir como aprendizado, acelerando o processo de recuperação que a prepara para o renascimento.

Esse trecho específico também pode indicar uma referência a um versículo bíblico: “Registra, tu mesmo, o meu lamento; recolhe as minhas lágrimas em teu odre; acaso não estão anotadas em teu livro?” (Salmos 56:8). Na passagem, Davi reza a Deus e se refere à crença de que Ele mantém o registro do sofrimento e da dor humana, a fim de sempre se lembrar de nossas lamentações.

Com clipe de “Never Really Over”, Katy Perry atinge pela primeira vez, desde “Dark Horse”, a liderança do YouTube mundial

Eis que o tão esperado momento começa a acontecer em uma linda cena no campo, na qual Katy está rodeada por dançarinos. Como uma borboleta, a intérprete se reinventa quando sai do “casulo” e abre suas “asas” para utilizar os ventos da vida a seu favor. Com as mãos, ela articula um símbolo muito marcante, que indica o início da reparação interior e da restauração de seu equilíbrio, conquistas amplamente celebradas pelos segundos seguintes do clipe.

O ponto da virada acontece após o “ritual de encerramento” do retiro, no qual Perry conclui sua transformação ao preencher o vazio que ainda habitava seu coração (preste atenção na roupa da cantora). Trilhando o caminho que a levará para a vida cotidiana novamente, a artista percebe que seu antigo amor também não a esqueceu, já que ele é visto se dirigindo ao já conhecido local de cura. Rapidamente, ela muda de ideia e decide, mais uma vez, render-se ao amor que já se tornou imune ao tempo.

Embora a atitude seja vista por muitos como um retrocesso, não podemos nos esquecer de que, mesmo tendo se rendido a um sentimento do passado, a intérprete não o enxerga como antigamente.

O aprendizado acumulado nesse espaço de cura permite que a maneira como Katy enxerga o mundo se torne diferente, um fator que, com certeza, será fundamental para que essa nova tentativa de viver um romance tenha mais chances de dar certo. O videoclipe acaba se tornando uma grande lição de vida: não importa quais situações vivamos, sempre seremos transformados pelas experiências do passado.

Diante disso, o significado do símbolo de “Never Really Over” ganha proporções ainda maiores: por se tratar da busca por aceitação entre luz e sombras, compreendemos que a vida também é composta pelos problemas que nos levarão à felicidade.

Em evento de divulgação, Katy Perry explica significado do símbolo de “Never Really Over”

Mantendo essa análise em mente, também é importante que  prestemos atenção em toda a divulgação e repercussão do single, pois nelas se escondem pontos importantes que dão força à comparação proposta entre a canção e a trajetória artística da cantora.

Como dito anteriormente, a faixa representa a retomada da carreira musical de Perry após seu último álbum de estúdio, “Witness“. Sendo assim, ao “testemunhar” todo o processo de cura destacado na nova música, que culmina no retorno às origens de maneira mais madura e consciente, o público pode associá-lo ao retorno dos gloriosos dias do “Teenage Dream“, como já destacou o empresário da intérprete:

Se uma comparação referente à sonoridade não é suficiente para você considerar um suposto retorno ao “sonho adolescente“, talvez seja interessante cogitar as estatísticas que comprovam o elevado desempenho comercial da faixa, conforme noticiado aqui, aqui e aqui.

Seguindo com as referências, é de extrema importância citar a influência que o álbum “PRISM” teve sobre os visuais de “Never Really Over“. Grande parte dos elementos relacionados ao disco está relacionada a flores, borboletas, arco-íris e outros componentes da natureza, que podem ser facilmente associados à estética do novo single, porém de forma mais elegante e com menos exageros.

É bem provável que, neste momento, você já saiba o papel que “Witness” possui nessa jornada. Portanto, concluímos que o novo conceito apresentado por Perry está intrinsecamente ligado ao seu legado na música pop, servindo como prova de que a cantora conseguiu, de fato, encontrar o ponto ideal entre a luz e a escuridão para compartilhar com o mundo apenas o que há de mais belo dentro de si mesma.

Mais alguém aí está ansioso pelos próximos capítulos da nova era?

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